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Arquipelago de Origem:
Funchal
Data da Peça:
1960-00-00 00:00:00
Data de Publicação:
31/03/2023
Autor:
Não identificado
Chegada ao Arquipélago:
2023-03-31
Proprietário da Peça:
Vitor Sardinha
Proprietário da Imagem:
Vitor Sardinha
Autor da Imagem:
Não identificado
Tony Cruz, cartaz promocional de 1960 (c.), ilha da Madeira

Categorias
    Descrição

    Tony Cruz
    (1936-2004)
    Cartaz promocional de 1960 (c.)

    Tony Cruz - O Guardião das Noites da Madeira I



    Tony Cruz nasceu na freguesia de Santa Luzia, cidade do Funchal a 11 de Maio de 1936. Filho de António Ana da Cruz e Sabina Veiga Cruz, naturais de Cabo Verde, que tiveram mais dois filhos. O seu primeiro contacto com a música aconteceu na feira popular do Almirante Reis, onde ouvia muitos dos cantores regionais, como Cordélia Abreu e João Fernandes, entre outros artistas, nacionais e estrangeiros, sobretudo espanhóis. Também o Avenida-Parque, na atual Avenida do Mar, onde escutou os sons latino americanos e temas do Swing jazz americano pelo «Tino Cubanos», um grupo liderado pelo pianista madeirense Libertino Lopes. A harmónica foi o seu primeiro instrumento. Nela buscou muitas músicas que ouvia nos espetáculos de Sábado e Domingo, bem como na rádio que já o fascinava nesse tempo. O seu tempo livre na adolescência passava-o na Banda Distrital do Funchal, tocando caixa de rufo, onde os seus dotes rítmicos depressa se desenvolvem, meio caminho para passar a tocar bateria. O jovem Tony Cruz tinha já uma voz bem colocada, natural e intuitiva, e não lhe faltou convites para a nível amador integrar pequenos agrupamentos que tocavam em festas de casamento e batizados. A Feira do Marítimo foi outra das suas passagens enquanto amador, atuando logo na primeira realização com a «Orquestra Brilhante». Era também um espectador atento dos músicos, cantores e conjuntos que por lá passavam. Ver e ouvir consistiu no fundo a sua escola musical. A cantar ou a tocar bateria, o jovem Tony Cruz era já conhecido no meio dos músicos amadores que o convidavam para outros projetos fora da banda, aos fins de semana. Do Ateneu Comercial do Funchal à Quinta Esperança as festas com pequenos grupos musicais eram frequentes. Serviam estas para se manter ativo e fazer a música de que tanto gostava, embora como tempo livre. Os bailes animados no Solar da Dona Mécia, ao longo da década de 50, tiveram também a sua participação enquanto cantor, da Orquestra Brilhante. As canções latino americanas, ao estilo de Nat King Cole muito em voga na altura, abriram-lhe as portas para outros patamares musicais. A sua voz aveludada, ao estilo do cantor americano deixou o Funchal encantado. Aquele rapaz tinha futuro na música. Numa dessas festas enquanto convidado, conheceu Lawrence Halle o pianista do Hotel Savoy. Tony Cruz pediu-lhe para o acompanhar numas canções. Essas canções valeram-lhe um contrato para o Savoy, por recomendação do pianista inglês. A sua aprendizagem musical e a definição do seu novo repertório, mais virado para a música cantada em inglês, espanhol, francês e italiano e para os ritmos da dança (Bolero, Quick Step, Valsa Inglesa, Valsa Vienense), entre tantos outros estilos, tiveram um precioso professor e amigo no pianista inglês, que o ajudaria nesse percurso. Daí para a frente, o trabalho individual e a sua espantosa intuição, guiaram-no para uma carreira artística de qualidade, que todos reconhecem. Em Junho de 1959 conheceu pessoalmente o madeirense Helder Martins, figura do panorama nacional, que veio à Madeira com o seu conjunto para uma atuação no Teatro Municipal. O cantor, compositor e pianista madeirense, gostou muito da voz do jovem Tony Cruz e tentou convencê-lo a deixar a Madeira para fazer carreira em Lisboa. Ficou a promessa de uma ou duas composições musicais de Helder Martins, serem depois gravadas por Tony Cruz. O que de facto mais tarde veio a acontecer, com as canções «Mil Estrelas» e «Madeira Sereia do Mar». Na sua edição de 30 de Maio de 1967 a Revista Plateia fazia uma abordagem ao percurso artístico do cantor madeirense. Referia-se no artigo que em apenas oito dias de permanência em Lisboa, o jovem cantor tinha já firmado contrato com uma importante marca gravadora, para o seu primeiro disco nacional. Acrescentava ainda que Tony Cruz tinha sido convidado pelo empresário Vasco Morgado, a participar numa revista levada à cena em Lisboa. Também a RTP, por intermédio do seu produtor Melo Pereira, convidou-o para um espetáculo televisivo, dando-o a conhecer ao público do continente.
    No fim da década de sessenta, acompanhado pelo pianista Roger Sarbib, lançou vários trabalhos discográficos, onde a sua voz era já uma referência. O Hotel Savoy onde sempre atuou, era uma porta aberta para o mundo. Gente do espetáculo de toda a Europa e América passava por este prestigiado hotel, convivendo à noite ao som da Orquestra e da inconfundível voz do cantor. Jesus Franco, cineasta espanhol dos anos 60 e 70, foi um desses casos. Estava na Madeira a realizar planos de filmes para três produções hispano-americanas. Nestas filmagens o realizador precisou de jovens madeirenses para representarem papéis secundários, ao lado de nomes consagrados como Robert Wood, Wal Davis, Françoise Brion ou Philipe Lemaire. Os filmes «Inside a Dark Mirror», «Maciste contra a Rainha das Amazonas» e «Maciste contra Atlântida» contam com a participação de Tony Cruz. Um diálogo com Robert Wood, que no primeiro filme representa um trompetista de um conjunto, sendo o madeirense cantor e baterista desse grupo. Nos outros filmes de aventura, Tony Cruz participa como «guarda do tesouro», em cenas filmadas no Ribeiro Frio. A 12 de Maio de 1970, iniciou a sua primeira digressão internacional, com a devida permissão do Hotel Savoy, uma vez que o seu contrato era de exclusividade musical. Em Bremen e Badkissigen (Alemanha) permaneceu cerca de um mês, onde atuou em vários espaços de música ao vivo, participando ainda num programa musical da Rádio de Bremen. Caso único na música portuguesa, o cantor e baterista Tony Cruz, assinou um só contrato de atuação musical na sua vida. Esse contrato, manteve-o por 40 anos, em atuações musicais diárias, no emblemático Hotel Savoy, Uma vida musical e artística consagrada àquilo que se designa ainda hoje por «Noites da Madeira» e que no caso do Tony Cruz foram realizadas com muita alegria, dedicação e profissionalismo no também seu, de coração - Hotel Savoy! Morreu a 1 de junho de 2004. 

    Texto :@Vitor Sardinha