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Arquipelago de Origem:
Lisboa (cidade)
Data da Peça:
1660-00-00
Data de Publicação:
30/10/2025
Autor:
Josefa de Óbidos
Chegada ao Arquipélago:
2025-10-30
Proprietário da Peça:
MNAA
Proprietário da Imagem:
Hugo Carriço
Autor da Imagem:
Hugo Carriço
São Bernardo de Claraval, óleo de Josefa de Óbidos, 1660 (c.), Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal.

Categorias
    Descrição
    São Bernardo de Claraval.
    (1019-1153)
    Óleo sobre chapa de cobre, 50 x 50 cm.
    Josefa de Óbidos (1630-1684), 1660 (c.).
    Fotografia de Hugo Carriço, 2015
    Museu Nacional de Arte Antiga (Inv. 281/928), Lisboa, Portugal.

    São Bernardo de Claraval, ou de Fontaine, (Fontaine-lès-Dijon, 1019; Claraval, 20 ago. 1153). Nascido numa grande família nobre da Borgonha, era o terceiro de sete filhos de Tescelin, o Vermelho e Aleth de Montbard, iniciando os estudos religiosos com somente nove anos e, em 1112, entrando para a abadia de Cister, então incluída na Ordem de Cluny, saindo da mesma abadia em 1115, com vários companheiros, para fundar uma outra, em Langres, Ville-sous-la-Ferté, onde havia um vale dado como Vale Claro e daí a denominação de Claraval, que em 1132 se tornaria independente da ordem de Cluny, por uma reforma dos estatutos, muito mais austeros. Não há confirmação da sua deslocação a Portugal, onde o primeiro mosteiro foi o de São João de Tarouca, em 1142 e, depois, se fundou a grande abadia de Alcobaça, sagrada em 1153, quando o futuro Santo falecia em França. O futuro São Bernardo, no entanto, esteve associado aos inícios da independência de Portugal, tendo sido por sua mediação, ou da sua abadia em Portugal, pelo que teve, por certo, a sua aquiescência, que o papa Alexandre III (Rolando Bandinelli, Siena, c. 1100; eleito a 7 set. 1159; Civita Castellana, 30 ago. 1181) enviou um delegado à Península Ibérica, em 1179, o qual reconheceu D. Afonso Henriques como dux, mediante o pagamento de quatro onças de ouro.
    Josefa de Ayala Camacho Figueira Cabrera Romero (Fev. 1630-Óbidos, 22 jul. 1684) Josefa d'Óbidos, nasce em Sevilha em fevereiro de 1630 e a sua vida decorre entre a vila de Óbidos, onde os pais se instalam por volta de 1634 e, depois, a cidade de Coimbra, onde ingressa durante dois anos no Convento de Santa Ana. Vive entre localidades próximas, tais como Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Buçaco, sempre num universo regional, tranquilo e recatado, profundamente devoto, com as suas igrejas, confrarias, irmandades e conventos, longe dos grandes centros e movimentos artísticos europeus. É na oficina do pai, o famoso pintor Baltazar Gomes da Figueira (Óbidos, 1604 - Óbidos 1674), formado esteticamente em Sevilha, no contacto com artistas como Francisco Herrera, o Velho (1576-1656), Francisco Zurbarán (1598-1664) ou Juan del Castillo (c. 1590-1658), que Josefa aprende a arte da pintura e com o pai trabalhará durante anos. Apesar deste isolamento, e do facto, por si só excecional de, neste contexto, ser uma mulher pintora, uma das poucas em Portugal na época, o modo como se exprime artisticamente é peculiar. Josefa na sua obra consegue integrar, sentir e interpretar com uma linguagem plástica muito própria, o espírito e a estética barrocos. Como afirma Vítor Serrão, “O estilo Joséfico afirmou-se cedo em termos de absoluta individualização, a ponto de as suas obras, mesmo se não assinadas ou documentadas, serem facilmente reconhecíveis.” Há na pintura de Josefa de Ayala uma dimensão mística, um sentimento inocente e profundamente humano, uma presença sensorial e táctil dos objetos, que se articulam num código iconográfico e estético facilmente identificável, mas plenamente barroco. Josefa forma-se na oficina do pai e, consequentemente, ambos trabalharam um repertório comum para determinados temas, como as naturezas mortas. Os modelos de cestos de cerejas, pratos com queijos e flores, taças com bolos e biscoitos, cestos com pão e folares, eram replicados em diferentes composições, numa produção de carácter oficinal, mas onde Josefa consegue criar uma envolvente de afeto e tranquilidade que tornam a sua pintura inconfundível.
    Foi considerada, logo a partir do século XVII, o protótipo da cultura seiscentista nacional, sendo a sua obra muito valorizada no contexto mecenático da época e disputada pelas coleções aristocráticas. Viveu a maior parte da sua vida em Óbidos, povoação que cumpria os requisitos de corte de aldeia, pela sua nobreza ativa e desafogada, defensora da causa de Bragança contra o domínio espanhol, pelas confrarias laicas e o senado municipal, pelas tertúlias literárias e as residências com obras de arte, para além da importância do seu património histórico.