Image
Arquipelago de Origem:
Porto Santo
Data da Peça:
2007-00-00
Data de Publicação:
16/03/2023
Autor:
Câmara Municipal do Porto Santo
Chegada ao Arquipélago:
2023-03-16
Proprietário da Peça:
Câmara Municipal do Porto Santo
Proprietário da Imagem:
Sílvia Gomes
Autor da Imagem:
Sílvia Gomes
Rua José Venâncio Correia (Poeta Popular), 2007, Porto Santo

Categorias
    Descrição
    Rua José Venâncio Correia (Poeta Popular),
    (1867-1956)
    Fotografia de Sílvia Gomes.
    Sítio da Ponta, 2007, Porto Santo

    José Venâncio Correia  foi um poeta popular nascido a 18 de março de 1867 no sítio das Areias, na ilha do Porto Santo, onde veio a falecer a 3 de dezembro de 1956, aos 89 anos. Era filho de Venâncio Correia e de Júlia das Neves. Em 1890, casou-se com Maria Júlia de Melim, tendo enviuvado a 2 de janeiro de 1939. Era analfabeto, mas ainda assim criava poemas, alguns deles a partir de acontecimentos que faziam notícia nos jornais, a que o poeta tinha acesso pela leitura de terceiros. José Venâncio era trabalhador rural e, no silêncio do campo ou nos intervalos dos afazeres agrícolas, criava com frequência versos no seu pensamento, que depois divulgava.
    Segundo Luís Marino, em Musa Insular, José Venâncio Correia apresentou-se ao público por duas vezes: a primeira vez foi em 1938, no Funchal, por ocasião da festa das vindimas, na Qt. Vigia, onde atuou inserido no grupo folclórico do Porto Santo. A esse respeito, Francisco de Freitas Branco acrescenta, relatando a entrevista que fez a Maria Merícia Correia, neta de José Venâncio Correia, que o referido poeta popular “foi à cidade [Funchal] disputar com o Feiticeiro da Calheta e ganhou” (BRANCO, 1995, 270). A segunda exibição, de acordo com a citada obra de Luís Marino, teve lugar em 1947, no Porto Santo, na fábrica de cimento, mais especificamente num palco improvisado para artistas profissionais e amadores. Na referida obra de 1959, Luís Marino afirma ainda que o poeta era conhecido pelas alcunhas de “formiga” e de “periquito”, e que compôs 49 cantigas. Para além disso, reproduz duas das criações do trovador popular, intituladas “Meninas da Madeira” e “O Senhor Administrador” (MARINO, 1959, 248).
    Na quadra “Meninas da Madeira”, o poeta refere as moças madeirenses que iam passear para a praia do Porto Santo, insinuando uma conduta de que apenas a areia poderia dar conta, caso pudesse falar. Por sua vez, o poema “O Senhor Administrador” é dedicado a Joaquim Pinto Pinheiro, que foi nomeado, em 1936, presidente da comissão administrativa do Porto Santo. O poeta menciona, em verso, alguns locais e obras feitas no Porto Santo, nomeadamente: o açougue e o mercado situados entre o mar e a praça; as fontes e as ruas; a estrada do Penedo à Calheta e a Calç. do Lg. do Pelourinho, entre elogios pelos melhoramentos e críticas relativas a aspetos financeiros, evidenciando que era um homem atento aos acontecimentos do seu tempo e do seu meio social. De salientar ainda a publicação de poemas de José Venâncio Correia nos livros Histórias do Porto Santo (1986), de José de Castro Vasconcelos, e A Alma de Um Povo (2004), de António José Rodrigues, volumes em que poderão ser encontradas outras criações do poeta, cujos temas estavam associados à sua terra natal. Estes autores reproduzem, assim, alguns versos do poeta popular porto-santense que foram transmitidos por habitantes da ilha do Porto Santo, como aqueles que o versejador dedicou ao barco Arriaga, o “carreireiro” que assegurava as ligações marítimas entre as duas principais ilhas madeirenses, fazendo o transporte de pessoas e bens. Vasconcelos (1986) transcreve versos narrados por José de Castro, enquanto Rodrigues (2004) apresenta uma versão transmitida por João Abel de Ornelas. Os poemas relatam uma viagem empreendida pelo referido Arriaga, que transportava romeiros à festa dos Milagres, em Machico, bem como um casal de noivos que pretendia casar-se. Porém, a jornada acabou por contar com alguns percalços, uma vez que se perderam no mar, o que era, aliás, frequente na época, devido às condições do estado do tempo, por vezes adversas à navegação, associadas às características das pequenas embarcações de cabotagem que realizavam as viagens inter-ilhas. É também de destacar os versos publicados por Vasconcelos (1986), nos quais José Venâncio Correia retrata as vaidades das moças do Porto Santo, fala de virtudes e vícios, bem como dos problemas nos casamentos dos tempos modernos, ao mesmo tempo que diverte e censura, evidenciando a sua visão crítica da sociedade. Para além das obras indicadas, que reproduzem versos de José Venâncio Correia, desconhece-se outras publicações da poesia deste vate popular portosantense.
    Em 2007, o poeta foi homenageado pela Câmara Municipal do Porto Santo, que deliberou, em reunião de 13 de junho daquele ano, atribuir o seu nome a uma artéria do sítio da Ponta, Porto Santo, que foi denominada “R. José Venâncio Correia”.
    Obras de José Venâncio Correia: “Meninas da Madeira” (1959); “O Senhor Administrador” (1959); “As Meninas da Moda” (1986); “O Barquinho Arriaga” (1986).
    Bibliog.: manuscrita: ABM, Conservatória do Registo Civil de Porto Santo, Óbitos, liv. 3888, registo n.º 39, fl. 20; ABM, Registos Paroquiais, Porto Santo, Baptismos, liv. 6267, fl. 14; impressa: BRANCO, Francisco de Freitas, Porto Santo: Registos Insulares, Porto Santo, ed. do Autor, 1995; MARINO, Luís, Musa Insular: Poetas da Madeira, Funchal, Eco do Funchal, 1959; RODRIGUES, António José, A Alma de Um Povo, s.l., Grafimadeira, 2004; VASCONCELOS, José de Castro, Histórias do Porto Santo, Funchal, SRTC, 1986; digital: ALMEIDA, Maria Antónia Pires de, Dicionário Biográfico do Poder Local em Portugal 1936-2013, Lisboa, s.n., 2014: https://books.google.pt/books?id=7AtQBAAAQBAJ&pg=PT972&lpg=PT972&dq=Joaquim+Pinto+Pinheiro+porto+santo&source=bl&ots=r1JSpX7JTV&sig=8kf7N4UDLpexWQv8KPrT29jS YNg&hl=ptPT&sa=X&ved=0ahUKEwjozOat4cfLAhXEXh4KHV8LCZwQ6AEIIzAC#v=onepage&q=Joaq uim%20Pinto%20Pinheiro%20porto%20santo&f=false (acedido a 18 jul. 2016).
    Sílvia Gomes DEM 3