Revista Islenha 74, apresentação no Museu Etnográfico da Ribeira Brava, 2 de outubro de 2024, Ribeira Brava, ilha da Madeira
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Revista Islenha 74,
Conselho Editorial: Élia de Sousa, Paulo Ladeira e Rita Rodrigues.
Apresentação no Museu Etnográfico da Ribeira Brava, 2 de outubro de 2024, Ribeira Brava, ilha da Madeira
A edição número 74 da Revista Islenha, uma publicação da Secretaria Regional de Economia, Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura, foi apresentada a 2 de outubro de 2024, no Museu Etnográfico da Madeira, na Ribeira Brava, com a presença do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque. Os oito artigos, que compõem a revista, são, na sua quase exclusividade, dedicados ao Arquipélago da Madeira, nas mais diversas perspetivas de uma forma tão própria de sentir e escrever sobre a Ilha. No entanto, refira-se que a revista Islenha esteve e está aberta aos lugares da atlanticidade, sempre disponível em publicar artigos das diversas áreas do conhecimento, primando pelo rigor científico. As memórias individuais relatadas, independentemente da sua forma, estão imbuídas na memória coletiva, consubstanciando-se na própria construção da História.
Com o lançamento de mais uma REVISTA ISLENHA - a septuagésima quarta, o leitor é brindado por um conjunto de narrativas que, muito embora heterogéneas, convergem para o mesmo destaco de reflexão, alicerçada em enorme rigor científico e documental, sobre o Arquipélago da Madeira. A celebração dos 50 anos da carreira artística de António Barros é patenteada, não só através da referência em dois artigos, bem como na própria capa da revista, com a estampa de uma das suas obras – Florigen, e, ainda, o separador. A revista Islenha lançou este número semestral (de Janeiro a Junho de 2024) quase inteiramente dedicado a António Barros. Extremamente bem elaborada, belíssima graficamente, com dados importantíssimos sobre o trabalho do autor ao longo de mais de 50 anos e que (nos) chama a atenção para um percurso singular que remete António Barros para um dos mais construtivos e provocadores artistas que está connosco. Baseado no seu trabalho «Florigen, 2005» escreve o autor/artor logo no início da revista:
«A escultura - em modo de objecto-livro - «Florigen,2005», elege o florescimento das plantas como pólo de reflexão sobre a conjugação: electricidade_energia_luz, e o seu caminho recíproco: luz_energia_electicidade. (...). «Florigen, 2005» teve a primeira apresentação pública em What is Watt?, edição de 2005, no Museu de Arte Contemporânea Fortaleza de São Tiago, no Funchal. Depois em Coimbra na Casa da Escrita; no Círculo de Artes Plásticas_CAPC; e finalmente em: «da flor, esse rosto de esGrita», na Casa Museu Bissaya Barreto em 2024, enunciando-se como elegia ao museófilo, coleccionador de orquídeas, Alfredo Gomes de Barros, na celebração do centenário do seu nascimento.» Explica-se que Alfredo Gomes de Barros é o pai de António Barros, como, aliás, é explicado por Isabel Santa Clara e Augusta Villalobos nas páginas que se seguem a esta apresentação tão clara, quanto necessária e global sobre o trabalho do autor. Aí, lê-se em alguns extractos que vos dou a conhecer:
«O conceito científico de florigen [António Barros cita o trabalho, de 1937, do cientista russo Mikhail Chailakhian] remete para o florescimento, metamorfose e maturação das plantas, em resposta à luz. Longe de ser um processo solitário, propaga-se, em convivialidade, gerando, em múltiplo jogo de espelhos, todo um jardim florido, pleno de vida. Uma festa para os sentidos e para a alma. Expandindo este conhecimento e esta sensibilidade, numa abordagem humanista percebemos florigen como uma metáfora da Vida, e da Arte. De uma Arte-Vida-Arte para a Elevação da Pessoa-Natureza. logo, da Sociedade e do Planeta. Tal é o desígnio de António Barros.» (p.10).
Sobre o processo de construção das exposições de António Barros, Augusta Villalobos e Isabel Santa Clara apresentam-nos a seguinte ideia que, para quem já presenciou as exposições de António Barros, não pode deixar de se rever nestas palavras: «Nos diversos momentos de mostra do seu trabalho num registo de fisicalidade - coisas reais, pessoas reais - António Barros proporciona uma vivenciação do espaço expositivo convertendo-o num lugar habitado, e habitável, convidando a que seja habitado em convivialidade: um muSeu que seja seu." O próprio processo de construção de uma exposição constitui uma temporalidade privilegiada de diálogo com o Outro, sejam referentes de contaminação mais distanciados, sejam presenças próximas que o acompanham e contribuem directamente para a criação, ou - e de modo particular - o público, conceito que procura desconstruir e reinventar. Muito na linha Fluxus, a Arte como Processo. Para a universalidade.
O autor, que prefere assumir-se como artor, sempre captou a importância do lugar habitado numa exposição, e do modo de dar a ver, procurando através da semiótica da instalação e do rigor na montagem valorizar a especificidade e a densidade de cada peça, as afinidades e os confrontos. Os actos performativos encarnam de modo mais premente a delicadeza e a mutabilidade dessa habitar.» (p.18) António Luís Catarino/Deriva das palavras, 27 nov 2024.