Quinta do Palheiro Ferreiro, Somers Clarke, 1890 (c.), fotografia de 1950 (c.), ilha da Madeira
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Descrição
Quinta do Palheiro do Ferreiro, the late Graham Blandy.s house
Somers Clarke (1841-1926), (atr.), 1890 (c.)
Fotografia Perestrellos de 1950 (c.)
São Gonçalo, Funchal, ilha da Madeira.
A Quinta do Palheiro Ferreiro resultou de um pavilhão de caça que o morgado João de Carvalhal Esmeraldo, 1º conde de Carvalhal da Lombada (13 out. 1835), de seu nome completo João José Xavier de Carvalhal Esmeraldo de Atouguia Bettencourt Sá Machado (1778-1837) possuía no sítio daquele nome, freguesia de São Gonçalo. Sucedeu depois nos morgados do seu irmão mais velho, o coronel Luís Vicente do Carvalhal Esmeraldo de Sá Machado (c. 1752-1798), que já teria sido um dos homens mais ricos da ilha da Madeira e falecera sem geração As obras tiveram início entre 1801 e 1802, tendo a nova residência de verão sido iniciada quando regressou à Madeira alguns anos depois de uma viagem pela Europa, continuando as obras na sua quinta do Palheiro Ferreiro, as quais haviam sido visitadas, em 5 de janeiro de 1801, pelo governador D. José Manuel da Câmara (c. 1760-c. 1820).
Em 1813, D. frei Joaquim de Meneses e Ataíde, bispo de Meliapor e administrador da diocese do Funchal deixou gravadas no Diário da sua visita pastoral às Igrejas da costa de cima da Ilha da Madeira algumas impressões sobre a então muito jovem Quinta do Palheiro Ferreiro: Seguimos a direcção de Palheiro de Ferreiros, Quinta magnífica de João Carvalhal Esmeraldo, criada por ele desde o seu princípio do cume de um alto monte, que domina o mar e a cidade para a parte do Nascente. Esta Quinta tem muito arvoredo de castanheiros, pinheiros e outras árvores silvestres, e próprias para bordar as grandes ruas que mandou abrir. É tão grande e espaçosa que tem muita terra de semeadura, de mato, de pasto, de hortaliças, e de pomar. É muito farta de água porque a fez conduzir na distância de dezoito mil pés com grande benefício daquelas vizinhanças. Esta fazenda começada há nove anos será em poucos anos como uma propriedade real pela magnificência e gosto com que vai principiada. Fica a meia distância da cidade ao lugar da Camacha. As estradas até este sítio ainda que íngremes são bem calçadas, e podem caminhar duas cavalgaduras".
A residência inicial, hoje Casa Velha, estava pronta em 1817, quando, a caminho do Rio de Janeiro, passou pela ilha da Madeira a futura infanta do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, D. Maria Leopoldina de Áustria (1797-1826), que ali foi recebida e pintada, a 12 de setembro de 1817, por João José do Nascimento, quadro que pertenceu à antiga coleção dos condes da Calçada. Provavelmente na sequência disso teve João de Carvalhal alvará de moço fidalgo, a 17 de agosto de 1819.
A Quinta do Palheiro Ferreiro em poucos anos tornou-se ponto quase obrigatório de visita para as personagens mais ilustres que desembarcavam no Funchal. Em 1817, a arquiduquesa Leopoldina da Áustria passou pela Madeira, a caminho do Brasil, onde ia casar com o imperador Pedro I, esteve na Quinta do Palheiro, "confessando-se deslumbrada, assim como a sua comitiva" (LAMAS, 1956). O anfitrião da Arquiduquesa fora João de Carvalhal "que a destinou primeiro a tapada de caça, tendo nela construído um pavilhão de reunião em pleno bosque de abetos e carvalhos, plantados ao lado das naturais essências existentes (dos loureiros), e que em 1826 estava recortada por numerosas alamedas e ajardinada ao redor do edifício com alegretes de arbustos, canteiros de flores e renques de camélias, que faziam já a admiração e o encanto dos estrangeiros que visitavam a propriedade" (CORRÊA, Jácome, 1927). O primeiro conde de Carvalhal haveria depois de se retirar para o Palheiro Ferreiro, ali falecendo a 11 de Setembro de 1837 e sendo enterrado na capela da Quinta, embora depois transladado para o jazigo de família no Cemitério das Angústias.
O segundo Conde, António Leandro da Câmara Carvalhal Esmeraldo Atouguia Sá Machado (1831-1888), sobrinho neto do primeiro Conde, procedeu a obras na quinta, que decorriam, entre 1853 e 1855 (FRANÇA, 1970). A Quinta, entretanto teria sido alugada por 1865 a John Burden Blandy (1841-1912), talvez pontualmente e, em 1885, quando a mesma foi à praça, dadas as dívidas do segundo Conde de Carvalhal, foi adquirida pelos Blandy. John Blandy já ali recebeu o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia quando visitaram a Madeira em junho de 1901, que ali disputaram partidas de ténis. Desde então, é considerada a maior quinta privada da Madeira e está na posse da família Blandy. Os actuais proprietários, Adam Blandy e sua mulher Cristina, têm dado continuidade à obra de Mildred Blandy (1905-1981), que dirigiu os jardins durante mais de cinco décadas, enriquecendo-os com imensas espécies vegetais, muitas delas originárias da África do Sul, sua terra natal. Pub. in Noël Cossart, Madeira, the island vineyard, ed. por Penelope Mansell-Jones MW para Christie.s Wine Publications, Londres, 1984, p. 139.