Programa do Concerto Lírico por Lomelino Silva e Lizetta Zarone, Teatro Municipal de Baltazar Dias, 20 de março de 1952, Funchal, ilha da Madeira
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Programa do Concerto Lírico por Lomelino Silva e Lizetta Zarone
(1892-1967).
Teatro Municipal de Baltazar Dias, 20 de março de 1952.
Pub. Paulo Miguel Rodrigues, in Teatro Municipal de Baltazar Dias, Funchal, Imprensa Académica, abril de 2019, p. 282.
Coleção do Teatro Municipal de Baltazar Dias, Funchal, ilha da Madeira.
Nuno Estêvão Lomelino da Silva (Funchal, 26 dez. 1892-Lisboa, 11 nov. 1967); oficial do Exército, vem a ser incentivado pelo ambiente musical do Funchal da década de 20 a abandonar o Exército e ir estudar para Itália. A sua primeira apresentação em Itália foi no Teatro Dal Verne, em Milão, em 31 de dezembro de 1921, a que se sucedeu uma espantosa carreira internacional e sendo contratado pela Metropolitan Opera Company de Filadélfia, atuando pelos mais famosos teatros de ópera das América e da Europa. Veio à Madeira atuar várias vezes, a última, a solo, em 1949 e, com a pianista Lizetta Zarone, em 1952, ambas depois de se ter despedido dos palcos em Lisboa, em fevereiro de 1949, no Cinema Tivoli. A primeira vez que pisou o palco, então como sargento miliciano da artilharia Nuno Lomelino Silva, depois o Caruso Português, foi na opereta regional Primeiros Afetos, em 1917, original do capitão Artur Alberto Sarmento (1878-1953) e com música do alferes Manuel Ribeiro (1884-1949). Integrava-se numa festa militar, sendo executada por um grupo de sargentos e equiparados da Guarnição da Madeira, e pessoas das suas famílias, em benefício da Associação Fraternidade Militar, tendo sido ensaiada pelo major José Calixto Ferreira (1848-1928) na parte dramática e, os coros e motivos musicados, pelo então tenente Edmundo Lomelino (1886-1962). A opereta foi quatro vezes à cena, sendo a última a pedido da colónia estrangeira que tomou a casa por sua conta.
Como as grandes cidades europeias, também o Funchal, ao longo do século XIX, lutou pela construção de um teatro municipal, para servir de palco às principais manifestações culturais da cidade, sociais e até políticas. A localização escolhida foi a parte Sul da antiga cerca do Convento de São Francisco, onde funcionava um mercado, tendo já então a parte Norte dado origem ao chamado “jardim novo”, hoje Jardim Municipal. O projeto foi entregue ao engenheiro Tomás Augusto Soler (1848-1883), da cidade do Porto, infelizmente, falecido antes do lançamento da primeira pedra. Essa cerimónia ocorreu a 24 de outubro de 1883, pela mão de vice-presidente, o morgado João Sauvaire da Câmara e Vasconcelos (1828-1894), tendo a obra decorrido sob a responsabilidade do engenheiro José Macedo de Araújo Júnior e, os trabalhos, do mestre de obras Manuel Pereira, também ambos do Porto.
O edifício seguiu as linhas gerais neoclássicas e italianizantes do teatros europeus da sua época, com planta retangular, alçados de 2 pisos, sendo o primeiro de estilo dórico e o superior, jónico, rasgados regularmente e rematados por balaustrada, ao centro da qual se levantam as armas da Câmara Municipal do Funchal. Interiormente apresenta amplo átrio no piso térreo e salão nobre no piso superior, com sala de espetáculos em ferradura, dividida em plateia, frisas laterais e camarotes de 1ª, 2ª e 3ª ordens. Os tetos e as cornijas das principais salas encontram-se decorados por pinturas naturalistas e românticas efetuadas pelo cenógrafo italiano Luígi Manini (1848-1936) e pelo pintor-decorador português Eugénio Cotrim (1849-1937). No complexo do Teatro funciona um pequeno café, o Café do Teatro, ponto de reunião muito característico da sociedade funchalense, assim como gabinetes de direção e de trabalho, camarins e oficinas várias de apoio às inúmeras atividades cénicas, musicais e culturais que ali decorrem.
O Teatro foi inaugurado a 2 de março de 1888, sendo presidente da câmara o visconde do Ribeiro Real (1841-1902), levando à cena a zarzuela "Las dos Princesas", pela companhia espanhola contratada por D. José Zamorano, vinda expressamente das vizinhas Ilhas Canárias para o efeito. Nos anos seguintes continuaram a atuar companhias espanholas e italianas, em digressão pelas ilhas atlânticas, mas também portuguesas, artistas dos Scala de Milão e de Génova, do Real Teatro de Madrid, assim como os principais atores portugueses até aos dias de hoje. No salão de entrada encontram-se expostas parte das lápides evocativas da passagem pelo Teatro das mais importantes figuras do teatro português e internacional desde os finais do século XIX.
O teatro municipal do Funchal começou por se chamar Teatro D. Maria Pia (1847-1911), em homenagem à então rainha de Portugal, de origem italiana, passando, após a implantação da República, a Teatro Funchalense. A partir de 1917, depois da morte do Dr. Manuel de Arriaga (1840-1917), antigo deputado da Madeira e 1º Presidente da República Portuguesa, passou a utilizar o seu nome e, a partir de 9 de abril de 1942, o do dramaturgo madeirense do século XVI, Baltazar Dias. O “poeta cego da ilha da Madeira”, Baltazar Dias, como é referido por D. João III (1502-1557), em alvará de 29 de fevereiro de 1537, com o privilégio para publicação das suas obras, foi um dos mais importantes autores teatrais portugueses da segunda metade do século XVI e ainda é representado em autos populares nas ilhas de São Tomé e Príncipe, em África, no interior do Brasil e no continente europeu português.
O Teatro Municipal de Baltazar Dias foi palco das mais importantes manifestações culturais na Madeira ao longo de quase século e meio, quer em cena, quer no écran, já que durante certo tempo a sua sala foi a única a exibir filmes em continuidade na Madeira. Por outro lado, ao longo da sua história, passaram pelo seu palco as mais importantes companhias cénicas portuguesas e europeias. Criteriosamente restaurado, ainda é hoje a sede e o centro mais importante das atividades culturais do Município e, em grande parte, da ilha da Madeira.