Oferta da Manuel dos Passos Freitas e Co. Ltd. de 1.500$00 para o Asilo de Mendicidade e Órfãos do Funchal, Mrs. Cary Garton, 1 de julho de 1931, ilha da Madeira.
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Oferta da Manuel dos Passos Freitas e Co. Ltd. de 1.500$00 para o Asilo de Mendicidade e Órfãos do Funchal.
Assina Cary Garton, Funchal, 1 de julho de 1931.
Mau Caro Dr. Cunha Teles
Com os melhores cumprimentos e atendendo às inúmeras finezas que lhe devo - que de modo algum poderei pagar - envio-lhe junto a importância de 1.500$00 para os seus pobres azilados, tendo eu, porém - dada a muita consideração em que o tenho - aberto a excepção para com o Dr. mando-lhe uma verba muito maior do que as ofertadas a outras instituições similares, motivo porque sobre este particular lhe peço a maior confidência.
Sem outro assunto, aceite mais uma vez os cumprimentos desta sua dedicada e rogo-lhe o favor de transmitir a sua esposa e miúdos também os meus cumprimentos,
Cary Garton
Durante anos a fio, Mrs. Cary Garton (a madeirense Carolina dos Passos Freitas, que se casou com um engenheiro inglês e adotou o apelido até final da vida) enviou caixas e caixas de orquídeas da Quinta da Boa Vista, no Funchal, para o Presidente do Conselho
Arquivo Regional da Madeira, AINSC.
Levantamento de Rui Carita e Orlando Ornelas para a monografia Alexandre da Cunha Teles (1891-1936), 2022.
Funchal, ilha da Madeira.
Alexandre da Cunha Teles (Funchal, 15 maio 1891; Lisboa, 18 mar. 1936), advogado, escritor e filantropo, era filho do general Norberto Jaime Teles (1852-1936) e de D. Margarida da Cunha Teles, tendo casado com Anne Kristine Stephanie Wera Beranger Cohen (1900-c. 1965), dinamarquesa, cantora lírica e professora de canto, que estudara em Paris e tendo sido pais da pintora Martha Telles (1930-2001) e de outros.
O comandante madeirense Cecil Garton, adido aeronáutico na embaixada de Londres em Lisboa foi também um dos pilotos da Aquila Airways, companhia aérea independente britânica, formada em 18 de maio de 1948 e sediada em Southampton, Hampshire. Era membro de uma família madeirense com origem em Leopold Garton, um cidadão inglês que trabalhara na Eastern Telegraph Company, que desde 1873 tornara a Madeira no principal nó dos cabos submarinos no Atlântico e que casara com a madeirense Carolina Passos de Freitas. Cecil Garton casou depois em 1968 com a filha de William Cooke que era um apaixonado por orquídeas e reuniu um banco de genes, de todo o mundo, criando artificialmente híbridos que deram origem aos actuais cymbidium, lycaste ou paphiopedilum. As senhoras Garton, Cary e Christiana, de origem francesa, mãe e ex-mulher de Cecil Garton, frequentaram depois e enviavam periodicamente para a residência de Salazar (1889-1970), à Rua da Imprensa à Estrela, orquídeas da ilha da Madeira, provenientes da Quinta da Boa Vista, no Funchal, tendo 33 cartas enviadas pelo presidente do Concelho às mesmas sido doadas pela neta, à época a jovem "amiguinha" Christiana Garton (II), como Salazar se lhe refere, ao Arquivo da Torre do Tombo em 2017. Esta quinta, em 26 de maio de 1936 fez parte das visitas das comemorações do I Centenário da Associação Comercial e Industrial do Funchal, que tiveram no Funchal a presença de José Maria Álvares (1875-1940), presidente da Associação Industrial Portuguesa de Lisboa, passou depois à família Garton, que administrava o Hotel Miramar, havendo uma grande quantidade de guaches a aguarelas de Max Römer (1878-1960) dos edifícios e do jardim, desde a década de 1930, parte dos quais na antiga coleção Ronald Garton, Funchal. Já então funcionava como orquidário e, na décadas de 1950/60, era propriedade ou co-propriedade do comandante Cecil Garton (Cf. "Cartas inéditas de Salazar revelam segredos e intimidade de família inglesa", in Público, Lisboa, 26 nov. 2017).