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Arquipelago de Origem:
Madeira
Data da Peça:
1926-00-00
Data de Publicação:
17/03/2023
Autor:
Jaime Cortesão
Chegada ao Arquipélago:
2023-03-17
Proprietário da Peça:
Companhia Nacional Editora
Proprietário da Imagem:
Companhia Nacional Editora
Autor da Imagem:
Alfredo Roque Gameiro
O Romance das Ilhas Encantadas, Jaime Cortesão, ilustrações de Roque Gameiro, Lisboa, 1926, Portugal

Categorias
    Descrição
    Jaime Cortesão, O Romance das Ilhas Encantadas,
    (1884-1960)
    Ilustrações de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), Lisboa, Companhia Nacional Editora, 1926, Portugal

    Jaime Zuzarte Cortesão (1884-1960), natural de Ançã, Cantanhede, filho do filólogo António Augusto da Silva Cortesão e de Norberta Cândida Zuzarte de Abreu, nasceu a 29 de abril de 1884 e faleceu, em Lisboa, no dia 14 de agosto de 1960. Foi um reputado intelectual, político, historiador e escritor. Licenciado em Medicina, abandona a profissão em 1912 para se dedicar à história e à literatura. Envolveu-se ativamente na vida cultural do país, tendo fundado, com Leonardo Coimbra, em 1907, a revista anticlerical e anarquista Nova Silva, e tendo colaborado com Teixeira de Pascoaes na fundação de A Águia. Em 1912, participou no movimento cultural Renascença Portuguesa e nos anos seguintes teve colaboração em diversos periódicos, como Atlântida, Ilustração, Illustração Portugueza, e nas revistas Serões e Seara Nova. Foi nomeado, em 1919, diretor da Biblioteca Nacional, mas a participação na tentativa de derrube da ditadura militar, presidindo à Junta Revolucionária estabelecida no Porto, custou-lhe o cargo em 1927, e obrigou-o ao exílio em França. Em 1940, aquando da invasão alemã no quadro da Segunda Grande Guerra, viaja para o Brasil, onde se dedica ao ensino universitário, especializando-se na área da história dos descobrimentos portugueses e na formação do Brasil. Regressou a Portugal em 1957, mas foi preso por um breve período com outros intelectuais, no ano seguinte, pelo apoio à campanha de Humberto Delgado. Nesse mesmo ano de 1958, é eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores. A título póstumo, em 1980, é feito grande oficial da Ordem da Liberdade e, em 1987, recebe a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
    Jaime Cortesão publicou um vasto número de obras nos campos da história e da cultura portuguesa, destacando-se, entre muitos títulos: Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses. A Geografia e a Economia da Restauração , Eça de Queiroz e a Questão Social, O Humanismo Universalista dos Portugueses, e Portugal. A Terra e o Homem; como poeta, A Morte da Águia, Esta História É Para os Anjos, Glória Humilde, Divina Voluptuosidade, Missa da Meia-Noite e Poesias Escolhidas; como autor dramático, O Infante de Sagres e Egas Moniz; e, no âmbito da literatura infantil, O Romance das Ilhas Encantadas e Contos para Crianças. Começou cedo o ofício de escritor, logo após ter concluído a licenciatura, publicando em periódicos composições e textos de caráter saudosista.
    Em O Romance das Ilhas Encantadas, de chave lendária e tom mítico, combinando o histórico com o maravilhoso, o autor descreve o nascimento de Portugal e o início dos descobrimentos, com a chegada dos Portugueses à Madeira e aos Açores. Na narrativa, convivem personagens e eventos reais, como a reconquista cristã liderada por Afonso Henriques e o envolvimento do infante D. Henrique nos descobrimentos, com personagens de dimensão mítico-lendária, como D. Marinha e os seus filhos, os Marinhos, ligando Portugal a uma filiação atlântica e a um destino marcado pelo impulso marítimo. Jaime Cortesão cria, desta forma, uma linha de continuidade na história de Portugal, ao mesmo tempo maravilhosa e factual, explicando o presente e futuro pela herança passada de um povo que tinha como avô o mar. A Madeira é associada, no capítulo “O encanto de desencantar as ilhas”, a um dos bravos Marinhos, a quem chamavam Machico, que, tendo ouvido falar das ilhas encantadas, enfrenta o mar e o medo para as encontrar. A névoa que esconde a Ilha e amedronta a tripulação acaba por ser atravessada pelo Marinho Machico, que a todos brada “com palavras de valoroso incitamento” (Cortesão, 1979, 36). A coragem permite-lhes ver um espetáculo tão belo que faz sentir calafrios aos marinheiros deslumbrados, chegando alguns deles a ajoelhar-se: as rochas altas, as selvas de árvores, os cerros de curva macia formam um “altar de serras e arvoredos entornando ondas de cantos, de cores e de perfumes sobre o Mar!” (Id., Ibid., 39). Tudo era viçoso na Ilha encantada, tudo virgem, e os animais, entre os quais uns a que chamaram lobos-marinhos, não tinham o menor receio dos novos habitantes: “Era tamanho o esplendor da Ilha, a suavidade dos ares e a inocência natural dos bichos, que o Machico se convenceu ter aportado àquele mesmo lugar do Paraíso, a que outrora S. Brandão com os seus monges conseguira abordar” (Id., Ibid., 40).
    Jaime Cortesão usou como fonte os textos que relatam o avistamento da Ilha e o posterior desembarque, tendo seguramente consultado o relato de Gaspar Frutuoso, As Saudades da Terra, no qual se inspira tanto a nível da estruturação do texto, como dos elementos estilísticos. O tom épico de heroicidade e de superação dos medos, e o olhar fascinado de Frutuoso também contaminam o autor, sendo, aliás, este tom coerente com a atmosfera da narrativa construída por Cortesão. O Romance das Ilhas Encantadas inscreve-se numa visão edénica da Madeira, visão esta que marcara os relatos da Ilha no quadro da literatura dos descobrimentos e, e.g., o descobrimento do Brasil, dando conta e evidenciando as características de uma terra fértil, animais dóceis e uma paisagem que provoca e desencadeia uma experiência pessoal de tipo religioso. Além disso, nota-se o elemento ufanista, também presente nos textos de viagem portugueses dos séculos XV e XVI, expressão do orgulho pela terra e pelo povo que a encontra. Estes elementos e temáticas perduraram na literatura de viagens sobre a Madeira, marcando a visão da Ilha como uma ilha encantada, e Jaime Cortesão, enquanto historiador e escritor, compreendeu a sua dimensão mítico-lendária, não só no quadro dos descobrimentos e da expansão, mas também na dimensão artístico-literária.
    Obra de Jaime Cortesão: A Morte da Águia (1910); Esta História é Para os Anjos (1912); Glória Humilde (1914); O Infante de Sagres (1916), Egas Moniz (1918); Divina Voluptuosidade (1923); O Romance das Ilhas Encantadas (1926); Missa da Meia-Noite (1940); Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses. A Geografia e a Economia da Restauração (1940); Eça de Queiroz e a Questão Social (1949); Poesias Escolhidas (1960); Contos para Crianças (1964); O Humanismo Universalista dos Portugueses, (1965); Portugal. A Terra e o Homem (1966).
    Bibliog.: CORTESÃO, Jaime, O Romance das Ilhas Encantadas, Lisboa, Arcádia, 1979; FRUTUOSO, Gaspar, As Saudades da Terra. História das Ilhas de Porto-Santo, Madeira, Desertas e Selvagens, anot. Álvaro Rodrigues de Azevedo, Funchal, Typ. Funchalense, 1873.
    Luísa M. Antunes Paolinelli  DEM 3