O Boémio, óleo de Édouard Manet, 1861 a 1862, Louvre Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos
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Descrição
O Boémio.
Óleo sobre tela, 90,5 x 55,3 cm.
Édouard Manet (1832-1883), Paris, 1861 a 1862.
Óleo que teve outro enquadramento, como uma família de Ciganos, onde figura este boémio de pé, com a mulher e um filho sentados no chão e, num segundo plano, um rapaz a beber água por uma bilha, de que existe gravura a água-forte assinada Manet e editada por 1862, entre outras coleções, na do Art Institut of Chicago(1968.303). A inicial tela terá sido cortada por 1865, tendo sido apresentada a figura do rapaz com a bilha, como figura independente, tal com outros trabalhos dessa época de alguma influência espanhola, elementos patentes num desenho do Autor, datado de 2 de abril de 1865, também Art Institut of Chicago (2012.84), onde também se encontra Le Buveur d'Eau (1986.413), que fazia parte da inicial composição do Grupo de Ciganos. Só recentemente foi localizado este Boémio e então adquirido pelo Louvre Abu Dhabi, devendo ter-se perdido a parte de baixo da inicial composição onde figurava a mulher e a criança.
Fotografia de 2018.
Louvre Abu Dhabi, Masterpieces of The Collection, Éditions Skira Paris, 2017, p. 94, Um Mundo Moderno?, Louvre Abu Dhabi, Ilha Saadiyat, emirado de Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos.
Édouard Manet, (Paris, 23 jan. 1832-Idem, 30 abr. 1883) foi um pintor e artista gráfico francês da segunda metade do século XIX, considerado como um dos mais importantes representantes do impressionismo francês, embora muitas das suas obras possuam ainda fortes características do realismo. Assim, prefere os jogos de luz e de sombra, restituindo ao nu a sua crueza e verdade, muito diferente dos nus adocicados da época, tal como muitas das suas texturas são apenas sugeridas, as formas, simplificadas e, muito especialmente, os temas deixam de ser neste Autor impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida da época, para além de que muitos seus trabalhos foram feitos de forma objetivamente provocatória. Filho de Auguste Manet (1796-1861), um alto funcionário do Ministério da Justiça e integrado numa família da alta burguesa da capital francesa, sendo a mãe da família Fournier, filha de um diplomata francês na Suécia e, inclusivamente, aparentada com a família Bernardotte, que ocupara o trono daquele estado. Pressionado desde muito novo, como filho primogénito, para seguir direito, desde logo os resultados avaliados no seu percurso escolar foram dececionantes, sendo dado como pouco aplicado e até um pouco insolente. Mostrando interesse numa carreira na Marinha, a família acabou por aceitar, mas só aí entraria pelo trabalho, ou seja, embarcando simplesmente como marinheiro do navio-escola Havre et Guadeloupe, que em dezembro de 1848, partiu para o para o Brasil. A experiência da viagem ao Brasil, onde teve um primeiro contacto com tintas e pincéis, que recebeu do comandante, como ajudante de camareiro, para pintar a despensa, desenvolveu-lhe um certo gosto pelo exótico, pelas mulheres e desenvolveu uma franca repulsa à escravatura, tal como uma certa aproximação aos problemas sul-americanos. Marcou-o muito a luminosidade da baía de Guanabara que haveria de deixar traços marcantes na sua maneira de pintar. De volta a França, em junho de 1849, Manet novamente fracassaria no acesso à Escola Naval.
Face aos insucessos e, muito provavelmente, à experiência da sua viagem ao Brasil, em 1850, matriculou-se no atelier de Thomas Couture (1815-1879), trabalhando então a copiar as obras dos grandes mestres do Louvre e de outras museus de Paris. Em 1852 nasceu um filho da união com Suzanne Leenholf (1829-1906), professora de piano de seus irmãos, mas cuja paternidade não assumiu, tendo sido registado como Leon Edouard Koëlla-Leenhoff (1852-1927) e só se casando com a mesma em outubro de 1863, mais de um ano após o falecimento do pai. Em 1853, entretanto, visitou Dresden, Praga, Mónaco, Viena e foi pela primeira vez a Itália. Em 1856, depois de seis anos, abandonou o ateliê de Couture, com quem se começara a incompatibilizar, entendendo o Mestre que o Autor não respeitava as nuances de claro-escuro, o que era verdade e outros princípios académicos. Dividiu depois um estúdio com o conde de Balleroy, pintor de animais e, em 1857, fez uma segunda viagem a Itália. O Autor passou, entretanto, por um período de fascínio pela pintura espanhola, mas só muito pontualmente conseguiu ver os seus quadros serem aceites nos anuais Salões de Paris, mas pontualmente, foi conseguindo apresentar um ou outro e, os restantes, vão aparecer no chamados Salões dos Recusados. Com uma muito especial aptidão para criar escândalos com as suas obras à época em Paris, veio a integrar vários grupos de intelectuais, como os liderados por Charles Baudelaire (1821-1867) e, depois, por Emile Zola (1840-1902), acabando por impor a sua arte e, em 1881, ganharia o direito de participar nos salões oficiais de Paris sem qualquer julgamento prévio. Em novembro de 2014, o seu quadro Primavera, pintado em 1881, subiu na leiloeira Christie's em Nova York a 65,13 milhões de US$, a mais alta cotação alguma atingida por um quadro impressionista. Edouard Manet morreria em Paris, a 30 de abril de 1883, com 51 anos de idade, de sifilis, o que já havia acontecido ao pai, em 1861 e ao seu amigo Charles Baudelaire, em 1867.
O Louvre Abu Dhabi foi inaugurado a 8 de novembro de 2017 pretendendo ser um museu global. O projeto do museu, anunciado há uma década, em 2007, resultou de um acordo intergovernamental de características inéditas: o emirado pagará 525 milhões de dólares pelo direito a poder usar o nome do Louvre durante 30 anos e seis meses, desembolsando mais 747 milhões (num total de 1093 milhões de euros) pelo empréstimo, por dez anos, de 300 obras de arte de diversos museus franceses, incluindo peças tão icónicas como o célebre Retrato de Mulher (La Belle Ferronière) de Leonardo da Vinci (1452-1519), Napoleão Cruzando os Alpes, de Jacques-Louis David (1748-1825), um auto-retrato de Van Gogh (1853-1890), O Tocador de Pífaro, de Edouard Manet (1832-1883), ou Natureza Morta com Magnólia, de Henri-Émile Benoît Matisse (1869-1954). A França comprometeu-se ainda a oferecer assistência técnica e a colaborar durante 15 anos no programa de exposições temporárias do novo museu. O Louvre Abu Dhabi, entretanto, tem vindo a adquirir, desde que o projeto foi lançado, um significativo conjunto de obras para a sua colecção permanente, de uma valiosa Virgem com o Menino de Giovanni Bellini (1430-1516), produzida entre 1480 e 1485, passando pela Escada de Jacob (c. 1665) de Bartolomé Esteban Perez Murillo (1617-1682) e por diversas obras de pintores oitocentistas, como Ingres ou Manet, até, por exemplo, um banco de madeira do decorador e desenhador de mobiliário Pierre Legrain (1889-1929). Em 2017 e para este acervo, foi adquirido o Salvador do Mundo de Leonardo da Vinci, por 450,3 milhões de dólares, o mais alto preço atingido por uma pintura.