Nossa Senhora e o Menino, litografia de xilogravura de Francisco Franco, 1923 (c.) e dezembro de 1988, Funchal, ilha da Madeira
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Descrição
Nossa Senhora e o Menino
Litografia de xilogravura, 21 x 17 cm,
Francisco Franco (1885-1955), Paris (?), 1923 (c.) do Museu Henrique e Francisco Franco (CFF 160 e n.º 237 do catálogo)
Edição da Câmara Municipal do Funchal do Natal de 1988
Antiga coleção Rui e Joana Carita.
Vendida na sessão do Século Passado, Leilões de 20 de julho de 2024, lote 434, por 110 euros, Funchal, ilha da Madeira
Proveniente de um conjunto de desenhos, aguarelas e xilogravuras de Francisco Franco, poucos assinados, oferecidos pelos herdeiros em 1987, por certo, alguns realizados em Paris, de que o Autor nunca se desfez, representando uma fase muito especial da sua vida. Neste conjunto fazia parte um desenho de modelo vivo de Guilherme Santa Rita (1889-1918), de 1910, tal como uma caricatura do mesmo assinada por Francisco, em Paris, 1913. Teria havido então uma estreita relação de Santa Rita com os irmãos Franco, pois no verso de um dos desenhos, inclusivamente, existe uma conta e a indicação de Santa Rita, parecendo haver uma dívida qualquer.
Francisco Franco de Sousa (1885-1955) formara-se na Escola Industrial do Funchal, onde o pai homónimo (1853-1932) era entalhador e, depois na Escola de Belas-Artes de Lisboa, entre 1902 e 1909, ano em que parte para Paris no intuito de completar a sua formação académica com o irmão Henrique Franco de Sousa (1883-1961). Nessa cidade contacta com as obras de Rodin e Bourdelle e integra o grupo dos Cinco Independentes, juntamente com Dordio Gomes, Alfredo Miguéis, Diogo de Macedo e Henrique Franco, seu irmão. Em 1914 regressa à sua ilha natal, devido ao início da Primeira Guerra Mundial. Neste período realiza vários bustos e monumentos, obras marcadas pela transição de um gosto naturalista para uma estética que revela um interesse pela valorização da componente arquitetónica da escultura e dos seus valores formais. Retorna a Paris em 1921, após breve passagem por Roma, onde se dedicou ao desenho e à gravura. Na capital francesa expõe no Salon d'Automne e na Société Nationale. São desta época obras como Rapariga francesa, Polaca, Torso de mulher ou o busto do pintor Manuel Jardim, que com a Cigana ou Chanteuse, teriam sido das suas mais arrojadas obras. Em 1923 participa na exposição 5 Independentes e entre 1925 e 1927 expõe em Nova Iorque, no Rio de Janeiro e em Boston com Picasso. Nesse ano de 1927 regressa os trabalhos para a grande estátua de Gonçalves Zarco, encomendada em 1922, apresentada em Lisboa ainda nesse ano e inaugurada no Funchal, em 28 de maio de 1934. Esta obra marca o início da sua carreira pública como escultor, com inúmeras esculturas de Salazar, passando a ser um dos artistas mais solicitados para a realização de estatuária do Estado Novo. A sua obra monumental, na qual se destacam a estátua do Infante D. Henrique (1931), com gesso hoje no Museu de Militar e versão em bronze no Porto Santo, o Apostolado da Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa (1935) e numerosas estátuas régias, como a de D. João IV (1943), em Vila Viçosa, cujo cavalo já fora apresentado na exposição do Mundo Português, de 1940, caracteriza-se por uma forte iconicidade e pela construção hierática das figuras, salientando o seu carácter majestático e heroico. Francisco Franco sofreu, nos últimos anos de vida, um desastre de viação que lhe fragilizou a saúde, vindo a falecer antes de assistir à inauguração da sua derradeira obra, o Cristo-Rei, que viria a ser inaugurado em Almada em 1959.