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Arquipelago de Origem:
Lisboa (cidade)
Data da Peça:
1903-03-21
Data de Publicação:
12/01/2024
Autor:
Phot. Vianna de Lisboa
Chegada ao Arquipélago:
2024-01-12
Proprietário da Peça:
AIICT
Proprietário da Imagem:
AIICT
Autor da Imagem:
AIICT
Major João Augusto Camacho, Lisboa, 21 de março de 1903, Portugal

Categorias
    Descrição
    Major João Augusto Camacho
    Oficial de Administração Militar, depois administrador do periódico O Vintém das Escolas
    Lisboa, Phot. Vianna, Rua dos Poaes de S. Bento, 67, 21 de março de 1903.
    Arquivo do Instituto de Investigação Científica e Tropical ()
    Lisboa, Portugal.

    A ideia de combater a escola clerical por meio da escola secular já vinha em Portugal dos finais do século XIX, sendo divulgada por vários republicanos, como o etnógrafo, professor e diretor do Curso Superior de Letras de Lisboa, Consiglieri Pedroso (1851-1910) em 1888 e o professor primário e jornalista Heliodoro Salgado (1861-1906), em 1889. Seguia-se o modelo francês positivista divulgado na III República Francesa, entre outros, pelo pedagogo Jean Macé (1815-1894), fundador da Ligue d’enseignement, em 1866, que se batia pela instituição do ensino gratuito, obrigatório e laico, visando, especialmente, as classes trabalhadoras e o primeiro-ministro francês Jules Ferry (1832-1893), que volta a dissolver a Companhia de Jesus em França, cria os primeiros liceus e colégios para o sexo feminino, torna o ensino primário gratuito (1881) e obrigatório (1882), tudo em nome de princípios religiosamente neutros e politicamente republicanos, seguindo as ideias divulgadas pelas lojas maçónicas.
    A associação Vintém das Escolas foi constituída na cidade do Porto, em 1901, depois de discutidos os seus estatutos na conferência maçon daquela cidade, de 9 e 10 de abril de 1900 (Bases do Estatuto, Lisboa, 26 mar. 1900, Cf. Fundação Mário Soares/DCD, pasta 04500.004.015), visando reunir contribuições individuais de um vintém (20 réis) e assim reunir fundos destinados à instrução e educação das classes menos privilegiadas, oferecendo escolas gratuitas, refeições em cantinas, creches e lares para jovens, tal como bolsas escolares. Está ainda no programa da mesma instituição a fundação de bolsas de trabalho, de bibliotecas populares e a prática de conferencias e preleções literárias e científicas, mas que não temos referência a terem sido efetuadas.
    Na inicial comissão diretora central instituída no Porto já fazia parte o jornalista Heliodoro Salgado, que em 1897 se radicara em Lisboa, pelo que a organização passou a funcionar a partir da sede do Grande Oriente Lusitano Unido, tendo a primeira reunião da comissão diretora ocorrido a 17 fev. 1902 (FMS/DCD, p. 04501.002.012) e a primeira escola sido inaugurada a 29 mar. 1903, na Rua Direita de Benfica, 219 (Ib. p. 04501.004.003). Com o advento da República, a Câmara Municipal de Lisboa, por deliberação de 14 out. 1915, atribuiu à Travessa do Espírito Santo, designação que atribuíra por deliberação de 29 mar. 1900 ao arruamento que ia do Largo do Espírito Santo (hoje Largo Ernesto da Silva) até à Rua Direita, a designação de Travessa do Vintém das Escolas.
    Para a angariação de verbas a associação publicava o jornal quinzenário O Vintém das Escolas, que tinha no cabeçalho a frase Beneficência, Instrução, Educação Cívica e, como subtítulo, Propaganda do Ensino Laical, sendo diretor o jornalista José de Moura Barata Feio Terenas (1850-1920) e editor, João Augusto de Oliveira Marques, cujo primeiro número saiu 1 jun. 1902, tendo sido articulado com José António Simões Raposo Júnior (1875-1948) (FMS/DCD, p. 04501.002.048). Era, logicamente, vendido ao preço de um vintém, lema de toda a organização e publicou-se até 1905. Neste periódico viriam a colaborar, entre muitos outros, Bernardino Machado (1851-1944) e Ana de Castro Osório (1872-1935). No seguinte ano de 1903 a administração do quinzenário passou para o tenente-coronel reformado João Augusto Camacho (FMS/DCD, p. 04501.004.026).
    Para promover a federação das escolas de ensino livre e manter diversas escolas, a associação organizou-se ainda em missões de recolha de fundos enviadas a diversas cidades portuguesas continentais, tendo sido escolhido para patrono um nome importante dos maçons republicanos: o antigo deputado e coronel de Engenharia José Elias Garcia (1830-1891). A organização gozou, entretanto, de alguma capacidade financeira, tendo tido impressos próprios para a sua correspondência, editando, inclusivamente, bilhetes-postais, que pensamos somente para os seus contatos, etc.
    O Vintém das Escolas organizou-se em 1904 em federação, sob a designação de Liga Portuguesa do Ensino Laico e os seus estatutos foram reformulados em fev. 1908 (FMS/DCD, p. 04503.002.006) e, com a República, em 1915, a associação ainda foi reformulada como O Vintém Preventivo, com uma direção composta por cinco membros pertencentes ao diretório do Partido Republicano Português e por cinco comerciantes, mas nos anos seguintes quer esta quer o Vintém das Escolas extinguiam-se.