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Arquipelago de Origem:
Lisboa (cidade)
Data da Peça:
2015-05-00
Data de Publicação:
Autor:
MNAA
Chegada ao Arquipélago:
2025-10-24
Proprietário da Peça:
MNAA
Proprietário da Imagem:
MN
Autor da Imagem:
MNAA
Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português, catálogo de exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, maio a setembro de 2015, Portugal,

Categorias
    Descrição
    Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português
    (1630-1684).
    Catálogo de exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, com direção de António Filipe Pimentel, comissariada por Joaquim Oliveira Caetano, Anísio Franco e José Alberto Seabra Carvalho, Lisboa, maio a setembro de 2015, Portugal.

    Ao longo de quase quatro décadas, Josefa de Óbidos criou algumas das imagens mais reconhecíveis da História da Arte portuguesa. Fascinante pela sua condição de género mas também pela individualidade do seu percurso artístico, Josefa é o alicerce desta grande exposição que nos desvenda, em oito núcleos, o Barroco português nos anos que se seguiram à Restauração da Independência. Mais de 130 peças (pintura, escultura e artes decorativas) vindas de várias instituições nacionais e internacionais, como os museus do Prado e de Bellas Artes de Sevilha, o Mosteiro do Escorial e de inúmeras coleções privadas, portuguesas e estrangeiras, compõem uma mostra inovadora, que o Museu Nacional de Arte Antiga, em parceria com a Ritmos, preparou para o verão de 2015. Revisitar a sua obra tem várias justificações. Mostrar a um novo público as suas pinturas, muitas em coleções privadas, e voltar a interrogar essas obras à luz dos contributos críticos entretanto colhidos, em exposições nacionais e internacionais onde a presença da pintora foi particularmente forte, são apenas algumas. Afastar de Josefa o mito da artista curiosa, porém provinciana, e apresentá-la como uma mulher emancipada e culta, cuja fé reflete a espiritualidade do século XVII, e como o mais eficaz e reputado expoente do Barroco português no ciclo que se seguiu à Restauração, é outro dos objetivos.
    Josefa de Ayala Camacho Figueira Cabrera Romero (Fev. 1630-Óbidos, 22 jul. 1684) Josefa d'Óbidos, nasce em Sevilha em fevereiro de 1630 e a sua vida decorre entre a vila de Óbidos, onde os pais se instalam por volta de 1634 e, depois, a cidade de Coimbra, onde ingressa durante dois anos no Convento de Santa Ana. Vive entre localidades próximas, tais como Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Buçaco, sempre num universo regional, tranquilo e recatado, profundamente devoto, com as suas igrejas, confrarias, irmandades e conventos, longe dos grandes centros e movimentos artísticos europeus. É na oficina do pai, o famoso pintor Baltazar Gomes da Figueira (Óbidos, 1604 - Óbidos 1674), formado esteticamente em Sevilha, no contacto com artistas como Francisco Herrera, o Velho (1576-1656), Francisco Zurbarán (1598-1664) ou Juan del Castillo (c. 1590-1658), que Josefa aprende a arte da pintura e com o pai trabalhará durante anos. Apesar deste isolamento, e do facto, por si só excecional de, neste contexto, ser uma mulher pintora, uma das poucas em Portugal na época, o modo como se exprime artisticamente é peculiar. Josefa na sua obra consegue integrar, sentir e interpretar com uma linguagem plástica muito própria, o espírito e a estética barrocos. Como afirma Vítor Serrão, “O estilo Joséfico afirmou-se cedo em termos de absoluta individualização, a ponto de as suas obras, mesmo se não assinadas ou documentadas, serem facilmente reconhecíveis.” Há na pintura de Josefa de Ayala uma dimensão mística, um sentimento inocente e profundamente humano, uma presença sensorial e táctil dos objetos, que se articulam num código iconográfico e estético facilmente identificável, mas plenamente barroco. Josefa forma-se na oficina do pai e, consequentemente, ambos trabalharam um repertório comum para determinados temas, como as naturezas mortas. Os modelos de cestos de cerejas, pratos com queijos e flores, taças com bolos e biscoitos, cestos com pão e folares, eram replicados em diferentes composições, numa produção de carácter oficinal. Josefa consegue criar uma envolvente de afeto e tranquilidade que torna a sua pintura inconfundível.
    Foi considerada, logo a partir do século XVII, o protótipo da cultura seiscentista nacional, sendo a sua obra muito valorizada no contexto mecenático da época e disputada pelas coleções aristocráticas. Viveu a maior parte da sua vida em Óbidos, povoação que cumpria os requisitos de corte de aldeia, pela sua nobreza ativa e desafogada, defensora da causa de Bragança contra o domínio espanhol, pelas confrarias laicas e o senado municipal, pelas tertúlias literárias e as residências com obras de arte, para além da importância do seu património histórico.