Jose Zyberchema e Raquel Brasão na exposição de fotografia no antigo Matadouro do Funchal
Fotografia de Evangelina Sousa, novembro de 2015
Visões de um Matadouro
David Francisco, Jose Zyberchema, Sandra Boloto e Evangelina Sousa.
Funchal, 20 de novembro de 2015
Campo da Barca, Funchal, ilha da Madeira.
A nova vida do antigo edifício do Matadouro do Funchal
No último quartel do século XX, entretanto, o Matadouro Municipal passava à tutela da Junta Geral, a 26 de novembro de 1974, já tendo sido essa questão das tutelas, entre outras, que mais de 20 anos antes levara ao afastamento de Fernão Ornelas. O aumento dos serviços ligados a esta área, com a montagem de laboratórios vários e a ação conjunta também com a instalação da Junta dos Produtos Pecuários (Decreto-Lei n.º 661/74), depois com a regionalização de todos esses serviços, a 16 de agosto de 1980, a criação da Direção Regional de Pecuária (Decreto-Lei n.º 293/80), depois integrada da Secretaria Regional de Agricultura e Pescas (Decreto Regulamentar Regional n.º 7/84/M, de 19 de abril), entretanto, levariam, em 2004, à transferência do Centro de Abate da Região para o Santo da Serra.
Com a passagem dos serviços de veterinária para diversos locais e do matadouro para o Santo da Serra (Centro de Abate da Madeira), a Câmara do Funchal tomou posse do edifício em 2004 e a primeira hipótese de reutilização a ocorrer foi a da instalação ali da biblioteca municipal, hipótese, inclusivamente, que teve o aval do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, do Ministério da Cultura (DN, Funchal, 30 dez. 2005, p. 7). A biblioteca municipal encontrava-se no Palácio de São Pedro, para onde entrara em 1930 e necessitava urgentemente de um outro espaço, embora não sendo essa a opção seguida, sendo em 2009 a biblioteca instalada no Edifício 2000, na Avenida Calouste Gulbenkian. O assunto não teve assim sequência e, em novembro de 2007, entretanto, realizava-se uma primeira vistoria técnica dos serviços de património para avaliar a situação do edifício. Mais ou menos devoluto, utilizado para arrecadação de materiais vários, logicamente, apresentava franca degradação, sendo urgente a tomada de medidas. Uma das primeiras medidas foi a sua proposta de classificação em meados de 2012 (JM, Funchal, 4 mar. 2012, Cultura, p. 29), como Imóvel de Interesse Municipal (Aviso n.º 20/2013, DR, 2ª série, n.º 12 de 17 jan. 2013), por se entender ser merecedor de especial proteção pelo seu “elevado interesse cultural, por se traduzir num testemunho com valor de civilização e cultura, cuja arquitetura, típica do período do Estado Novo, traduz a memória dos anos trinta e o modernismo que caracterizou as primeiras obras públicas regionais” da presidência do Dr. Fernão de Ornelas (1935-1946) e da sua campanha de melhoramento das vias e infraestruturas da cidade do Funchal.
Nessa sequência se equacionaram ainda várias hipóteses de reutilização e, dada a sua classificação como de Interesse Municipal, especialmente, na área da cultura da Câmara Municipal do Funchal. Nesse sentido, em 2015, foi levada a efeito uma exposição fotográfica sobre o tema “Matadouro. Há vida depois da morte” e com o título reNascimento; Visões de um Matadouro, inaugurada a 20 de novembro desse ano, com trabalhos de David Francisco, Evangelina Sousa, Sandra Boloto e Jose Zyberchema. Já então se equacionava a ampliação da utilização desse espaço para a área dos novos meios de comunicação informática, ou das novas tecnologias, aspeto já ali patente pela mão de alguns dos artistas presentes no Matadouro.
A requalificação do antigo Matadouro arrancou em julho de 2020, com um prazo de execução de 18 meses, envolvendo um investimento de quatro milhões de euros, verba cofinanciada pelo Turismo de Portugal, para a qual o departamento municipal de Economia e Cultura, através da divisão de Turismo e Cultura, elaborou um relatório e determinou os elementos arquitetónicos patrimoniais a manter (Matadouro Municipal do Funchal, Sobre a sua história e os seus equipamentos, 16.06.2020). Um ano depois a presidência da Câmara mostrava-se orgulhosa da obra desenvolvida, como “uma ponte entre o passado e o futuro”, destinada a receber uma incubadora de microempresas de indústrias criativas, um espaço de performance artística e exposições várias (JM, Funchal, 21 jun. 2021).