D. Luís da Cunha, óleo de 1760 (c.), Lisboa, Portugal
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Descrição
D. Luís da Cunha.
(1662-1749)
Óleo sobre tela, 68 x 54,5 cm.
Oficina portuguesa dos meados do XVIII, 1760 (c.).
Cabral Moncada, leilões, leilão 149, Lisboa, Antiguidades e Obras de Arte, 27 e 28 de maio de 2013, lote 119, avaliado entre 1.000 e 1.500 euros, vendido por 1.000.
Coleção particular, Portugal.
Célebre diplomata no tempo de D. João V, comendador da Ordem de Cristo, arcediago da sé de Évora, desembargador do Paço, enviado extraordinário às cortes de Londres, Madrid e Paris, e ministro plenipotenciário de Portugal no congresso de Utreque; académico da Academia Real de História, etc. Nasceu em Lisboa a 25 de janeiro de 1662, e faleceu em Paris a 9 de outubro de 1749. Era filho de D. António Álvares da Cunha, guarda-mor da Torre do Tombo, e sobrinho de D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor. Seguiu muito moço os estudos da Universidade de Coimbra, onde se graduou na faculdade de direito canónico, e tendo desde logo mostrado extraordinário talento, foi nomeado em 1686, quando terminou o curso, desembargador da Relação do Porto, contando apenas vinte anos de idade, passando depois para a de Lisboa. Em 1696 foi nomeado embaixador na corte de Londres, em que revelou exuberantemente a sua grande vocação para a diplomacia. No ano de 1712 recebeu a nomeação de ministro plenipotenciário no congresso de Utreque, para auxiliar o 4º conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva (1671-1738) que já estava encarregue das negociações da paz. Assinou nesse ano a suspensão das armas, a que se seguiu o tratado, celebrado entre Portugal, França e Espanha, que veio a ser assinado em 1715, o qual pôs termo à Guerra da Sucessão de Espanha e redefiniu as fronteiras do Brasil, oficializando a ocupação portuguesa em ambas as margens do Amazonas. Depois voltou a Londres como embaixador extraordinário, a felicitar o rei Jorge I, de Inglaterra, pela sua elevação ao trono, acompanhou este monarca a Hanôver, donde novamente partiu para Londres. Em seguida foi enviado a Madrid, que estava sendo governada pelo cardeal Alberoni. Teve graves contendas com este fogoso ministro, que numa ocasião, por causa duma reclamação de seiscentas mil patacas que Portugal apresentava, o tratou injuriosamente, chegando a voltar-lhe as costas. D. Luís da Cunha procedeu então com toda a energia. Dotado dum fino tato diplomático, percebeu que nessa ocasião não convinha à Espanha ter guerra com Portugal; era no tempo em que o embaixador espanhol em Paris, o príncipe de Cellamare, conspirara contra o regente, sendo a conspiração descoberta. A França declarara guerra à Espanha, o marechal de Berwick invadira as províncias setentrionais da península, e Alberoni não podia desejar que um exército português o obrigasse a chamar para as suas fronteiras ocidentais uma parte das forças, que lhe eram tão precisas nos Pirenéus. Por isso, D. Luís da Cunha mostrou-se resoluto e exigente, e conseguiu da Espanha pleníssimas satisfações.
Depois foi nomeado ministro plenipotenciário ao congresso de Cambrai, que não se realizou, e permaneceu em Paris, até que se viu obrigado a sair, em resultado duma desavença que o procedimento do abade de Livry, ministro de França em Portugal, suscitou: o abade de Livry pediu os seus passaportes, e D. Luís da Cunha pediu logo também os seus, e foi para Bruxelas, e dali mesmo esteve negociando com o governo francês para pôr termo a este estado de coisas, o que efetivamente conseguiu, chegando a um acordo com o marquês de Fénelon, ministro francês em Haia.
Voltou então a Paris, onde se conservou até falecer, como ministro de Portugal naquela corte, sendo encarregue de muitas e importantes missões, em que sempre se houve com reconhecido zelo e subida inteligência, pelo que, segundo diz um escritor, os ministros das outras nações o tinham por oráculo. Paris era a terra da sua maior predileção; apreciavam muito o seu elevado talento, e consultavam-no nos casos difíceis. Mr. Beauchamp dizia que D. Luís da Cunha era entre os portugueses um quinto evangelista. O marquês d'Argenson propôs-lhe uma vez, que alcançasse que Portugal se apresentasse como mediador para pôr termo à guerra entre a França e a Prússia. D. Luís mostrou-se muito partidário desta ideia, e assim o escreveu para Portugal. São muito curiosas as cartas que se trocaram em 1746 e 1747 entre D. Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão, a este respeito.
No meio duma vida agitada e cheia de cuidados, D. Luís não deixou de cultivar as letras, merecendo entre os seus escritos o primeiro lugar, as suas Memorias, que o celebre diplomata ofereceu à Biblioteca Real, as quais são a história política da Europa durante meio século, que, se conservam inéditas, e das quais dizem existir um exemplar na Torre de Tombo, além de outras cópias que ainda ficaram. É curioso, porém, que de três cópias que se conhecem, uma é em três volumes, outra em quatro, outra em seis, significando não o diverso tamanho do volume, mas o serem versões diversas, muitas mais resumidas que outras. Entre várias cartas de D. Luís da Cunha entre as quais algumas podem ser taxadas de apócrifas, torna-se célebre uma que dirigiu a D. José I, sendo ainda príncipe, em que lhe dá conselhos muito proveitosos para o governo do país, e indicando-lhe para ministro Sebastião José de Carvalho e Melo. Esta carta judiciosa recomenda a reforma do exército, da marinha e da magistratura, a criação da polícia da corte, o fomento da indústria, a abertura de rios e canais e a tolerância religiosa. Foi impressa em 1820, com o título de: Testamento politico, ou carta escrita pelo grande D. Luís da Cunha ao senhor rei D. José l antes do seu governo; Este documento havia sido publicado no Investigador português, e foi depois publicado por António Lourenço Caminha, em 1821, no seu livro: Obras inéditas do grande exemplar da ciência do Estado, D. Luís da Cunha a quem o marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo chamava seu mestre etc. comentadas e consagradas ao muito alto e poderoso senhor D. João VI rei do reino unido, etc., tomo 1.º. O segundo tomo não chegou a publicar-se.