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Arquipelago de Origem:
Holanda
Data da Peça:
1737-00-00
Data de Publicação:
18/03/2023
Autor:
Jan Baptist Xavery
Chegada ao Arquipélago:
2023-03-18
Proprietário da Peça:
Rijksmuseum
Proprietário da Imagem:
Rijksmuseum
Autor da Imagem:
Rijksmuseum
D. Luís da Cunha, Jan Baptist Xavery, 1737, Rijksmuseum, Holanda

Categorias
    Descrição
    D. Luís da Cunha.
    (1662-1749)
    Mármore, 80 x 66 x 31 cm.
    Jan Baptist Xavery (1697-1742), 1737.
    Rijksmuseum, Holanda.

    Célebre diplomata no tempo de D. João V, comendador da Ordem de Cristo, arcediago da sé de Évora, desembargador do Paço, enviado extraordinário às cortes de Londres, Madrid e Paris, e ministro plenipotenciário de Portugal no congresso de Utreque; académico da Academia Real de História, etc. Nasceu em Lisboa a 25 de janeiro de 1662, e faleceu em Paris a 9 de outubro de 1749. Era filho de D. António Álvares da Cunha, guarda-mor da Torre do Tombo, e sobrinho de D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor. Seguiu muito moço os estudos da Universidade de Coimbra, onde se graduou na faculdade de direito canónico, e tendo desde logo mostrado extraordinário talento, foi nomeado em 1686, quando terminou o curso, desembargador da Relação do Porto, contando apenas vinte anos de idade, passando depois para a de Lisboa. Em 1696 foi nomeado embaixador na corte de Londres, em que revelou exuberantemente a sua grande vocação para a diplomacia. No ano de 1712 recebeu a nomeação de ministro plenipotenciário no congresso de Utreque, para auxiliar o 4º conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva (1671-1738) que já estava encarregue das negociações da paz. Assinou nesse ano a suspensão das armas, a que se seguiu o tratado, celebrado entre Portugal, França e Espanha, que veio a ser assinado em 1715, o qual pôs termo à Guerra da Sucessão de Espanha e redefiniu as fronteiras do Brasil, oficializando a ocupação portuguesa em ambas as margens do Amazonas. Depois voltou a Londres como embaixador extraordinário, a felicitar o rei Jorge I, de Inglaterra, pela sua elevação ao trono, acompanhou este monarca a Hanôver, donde novamente partiu para Londres. Em seguida foi enviado a Madrid, que estava sendo governada pelo cardeal Alberoni. Teve graves contendas com este fogoso ministro, que numa ocasião, por causa duma reclamação de seiscentas mil patacas que Portugal apresentava, o tratou injuriosamente, chegando a voltar-lhe as costas. D. Luís da Cunha procedeu então com toda a energia. Dotado dum fino tato diplomático, percebeu que nessa ocasião não convinha à Espanha ter guerra com Portugal; era no tempo em que o embaixador espanhol em Paris, o príncipe de Cellamare, conspirara contra o regente, sendo a conspiração descoberta. A França declarara guerra à Espanha, o marechal de Berwick invadira as províncias setentrionais da península, e Alberoni não podia desejar que um exército português o obrigasse a chamar para as suas fronteiras ocidentais uma parte das forças, que lhe eram tão precisas nos Pirenéus. Por isso, D. Luís da Cunha mostrou-se resoluto e exigente, e conseguiu da Espanha pleníssimas satisfações.
    Depois foi nomeado ministro plenipotenciário ao congresso de Cambrai, que não se realizou, e permaneceu em Paris, até que se viu obrigado a sair, em resultado duma desavença que o procedimento do abade de Livry, ministro de França em Portugal, suscitou: o abade de Livry pediu os seus passaportes, e D. Luís da Cunha pediu logo também os seus, e foi para Bruxelas, e dali mesmo esteve negociando com o governo francês para pôr termo a este estado de coisas, o que efetivamente conseguiu, chegando a um acordo com o marquês de Fénelon, ministro francês em Haia.
    Voltou então a Paris, onde se conservou até falecer, como ministro de Portugal naquela corte, sendo encarregue de muitas e importantes missões, em que sempre se houve com reconhecido zelo e subida inteligência, pelo que, segundo diz um escritor, os ministros das outras nações o tinham por oráculo. Paris era a terra da sua maior predileção; apreciavam muito o seu elevado talento, e consultavam-no nos casos difíceis. Mr. Beauchamp dizia que D. Luís da Cunha era entre os portugueses um quinto evangelista. O marquês d'Argenson propôs-lhe uma vez, que alcançasse que Portugal se apresentasse como mediador para pôr termo à guerra entre a França e a Prússia. D. Luís mostrou-se muito partidário desta ideia, e assim o escreveu para Portugal. São muito curiosas as cartas que se trocaram em 1746 e 1747 entre D. Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão, a este respeito.
    No meio duma vida agitada e cheia de cuidados, D. Luís não deixou de cultivar as letras, merecendo entre os seus escritos o primeiro lugar, as suas Memorias, que o celebre diplomata ofereceu à Biblioteca Real, as quais são a história política da Europa durante meio século, que, se conservam inéditas, e das quais dizem existir um exemplar na Torre de Tombo, além de outras cópias que ainda ficaram. É curioso, porém, que de três cópias que se conhecem, uma é em três volumes, outra em quatro, outra em seis, significando não o diverso tamanho do volume, mas o serem versões diversas, muitas mais resumidas que outras. Entre várias cartas de D. Luís da Cunha entre as quais algumas podem ser taxadas de apócrifas, torna-se célebre uma que dirigiu a D. José I, sendo ainda príncipe, em que lhe dá conselhos muito proveitosos para o governo do país, e indicando-lhe para ministro Sebastião José de Carvalho e Melo. Esta carta judiciosa recomenda a reforma do exército, da marinha e da magistratura, a criação da polícia da corte, o fomento da indústria, a abertura de rios e canais e a tolerância religiosa. Foi impressa em 1820, com o título de: Testamento politico, ou carta escrita pelo grande D. Luís da Cunha ao senhor rei D. José l antes do seu governo; Este documento havia sido publicado no Investigador português, e foi depois publicado por António Lourenço Caminha, em 1821, no seu livro: Obras inéditas do grande exemplar da ciência do Estado, D. Luís da Cunha a quem o marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo chamava seu mestre etc. comentadas e consagradas ao muito alto e poderoso senhor D. João VI rei do reino unido, etc., tomo 1.º. O segundo tomo não chegou a publicar-se.