Comemorações do 25 de Abril frente ao centro cultural Anjos Teixeira, 2020, Funchal, ilha da Madeira.
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Descrição
Comemorações do 25 de Abril frente ao centro cultural Anjos Teixeira.
Edifício de 1950 (c.)
Fotografia de Funchalnoticias.net, 25 de abril de 2020.
Rua João de Deus, Funchal, ilha da Madeira.
Pedro Augusto dos Anjos Teixeira (Paris, 11 maio 1908; Sintra, 20 março 1997), filho de Artur Gaspar dos Anjos Teixeira – também escultor, e de Ester de Oliveira Franco, nasceu em Paris a 11 de maio de 1908, onde seu pai se encontrava a residir, após ter ganho uma bolsa de estudos de escultura, como prémio atribuído pelo legado Valmor. Com o início da I Grande Guerra, seu pai decidiu regressar, com toda a família a Portugal. Fixando residência em Lisboa, mudou-se mais tarde para Mem-Martins em Sintra. Pedro Augusto, tinha então, 6 anos de idade quando conheceu Sintra. Aqui viveu toda a sua infância e adolescência, nesta região saloia, ainda, eminentemente rural, onde pode desfrutar do contacto com a natureza e com os trabalhos do campo. Esta vivência permitiu-lhe criar uma afeição especial pelos animais, e pelo seu modus vivendi, que mais tarde transpôs para dois dos seus livros: História dos Grilos – Amigos da Minha Infância e Memórias de um Grão de Trigo. A observação e vivência destas realidades durante a sua adolescência, marcaram-no de tal forma, que todo este realismo, veio mais tarde, influenciar o seu trabalho, nas suas peças de temática humana e animal.
Aos 16 anos, e ainda durante a sua permanência em Mem-Martins, participou numa recolha de fundos para a construção da Escola Primária desta localidade, tendo para isso organizado e participado em diversas iniciativas, tal como récitas, nas quais colaborou ativamente. Por esta altura, já trabalhava com o pai no atelier em Lisboa. Em 1926, mudou-se com a família para uma moradia na Correnteza, no Bairro da Estefânea, continuando a trabalhar com o pai, como escultor, o que lhe preenchia todo o seu tempo. O pai, entretanto, falece em 1935, ano de que data um dos seus mais emblemáticos trabalhos, “O Homem do Polvo”, obra que marca o início da sua carreira como escultor. Concluiu o Curso Superior de Escultura, nas Belas Artes de Lisboa em 1948, tendo apresentado como trabalho final, uma escultura em gesso, de uma cena de “Quo Vadis”, com três figuras em tamanho natural – um homem, uma mulher e um toiro. Nesta época, Mestre Pedro, possuía um atelier na Rua da Rocha em Lisboa, onde esculpia incansavelmente peças de temática animal, muitas das quais tiveram como destino, a decoração do Jardim Afonso Lopes Vieira, em Leiria. Durante este período, expõe com regularidade, os seus trabalhos em Lisboa, na Sociedade de Belas-Artes e recebe vários prémios e medalhas de honra, de onde destacamos uma segunda e primeira medalhas, a Medalha de Honra em Escultura, e a segunda Medalha em Desenho, atribuídas pela Sociedade Nacional de Belas-Artes. Na sequência destas exposições e trabalhos, recebe, o Primeiro e Segundo Prémios Soares dos Reis e ainda o primeiro Prémio Rocha Cabral, da Academia de Belas Artes de Lisboa. Nos anos 50, decide frequentar o Curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo, após a sua conclusão, feito provas de admissão ao Ensino Técnico, ficando, assim, habilitado a lecionar as disciplinas de Modelação e Desenho, o que veio a efetuar nas Escolas António Arroio, Pedro Santarém e Francisco Arruda. Mestre Pedro, apesar de todas as influências das correntes naturalistas e realistas, transmitidas pela obra de seu pai, e por todos os artistas com os quais conviveu desde criança, foi no Neo-realismo que se reviu, tendo mesmo sido considerado, nesta corrente artística, um dos percursores. Defendendo novos conceitos teórico-estéticos e ideais, cada vez mais em voga na Europa, como a Liberdade, o Trabalho, a Justiça Social e a Dignidade Humana, numa aproximação ao Partido Comunista, Mestre Pedro Anjos Teixeira dá um novo cunho às suas esculturas, trabalhando incessante e marcadamente as temáticas da vida real das classes trabalhadoras, valorizando e enaltecendo o trabalho do Homem. Contudo, não nos podemos esquecer que Portugal vivia política e culturalmente uma ditadura, na qual Pedro Anjos Teixeira não se revia, era um escultor insubmisso, rebelde, revolucionário, crítico e inconformado, granjeando, assim, ódios e oposições, quer a si, quer à sua obra.
Defensor dos ideais neo-realistas, era neste movimento que espelhava a sua obra, mostrando o que pensava acerca da arte e do seu papel social, tendo por isso, sido considerado Persona non grata pelo Regime Salazarista. Neste contexto, expõe por várias vezes em Lisboa, tendo sempre os seus trabalhos sido preteridos e não mais voltando a ganhar qualquer concurso. Ficou sem trabalho durante vários meses, e chegou a ser acusado, por alguns jornais da época, de pertencer ao Partido Comunista Português. A sua situação económica agravou-se de tal forma que, aos 51 anos de idade, resolveu exilar-se no Funchal, aceitando um lugar de docente, por dois anos, na Academia de Belas-Artes da Madeira. Esta decisão, que inicialmente seria de curta duração, veio a durar cerca de 22 anos. Foi nesta ilha, que tão bem o recebeu, que veio a ser reconhecido, não apenas como Escultor e Mestre, mas também como Homem de grande potencial artístico. Aceita um lugar de docente na Academia de Belas-Artes da Madeira, tendo sido o fundador, conjuntamente com o violinista Jorge Madeira Carmeno, da Orquestra de Câmara da Madeira, onde tocou e ensinou violeta durante quinze anos. A sua versatilidade permitiu-lhe, ainda, manter uma atividade como jornalista, no Jornal de Notícias da Madeira, onde se dedicou a assuntos de cariz cultural. Foi ainda neste período, que contraiu matrimónio pela terceira vez, com D. Maria Isabel Martins.
Mestre Pedro, a convite de várias entidades produziu neste arquipélago grande parte da sua obra escultórica, a qual enobrece, as principais praças e artérias desta ilha, e de onde salientamos as estátuas do Dr. Jaime Moniz (Funchal, 1961), do Tristão Vaz Teixeira (Machico, 1971), o busto de D. Filipa de Lencastre (Funchal, 1973), a Florista Madeirense (Funchal, 1980) e o Monumento às Bordadeiras (Funchal, 1986), entre muitos outros. A obra de Mestre Pedro, não é visível apenas nas grandes praças do Funchal, neste período, executou inúmeros trabalhos, que se encontram espalhadas em coleções particulares.
Na década de 1980 regressa a Sintra, fixando residência no espaço, onde hoje podemos desfrutar grande parte das suas obras – o Museu Anjos Teixeira. Aqui contraiu o seu quarto matrimónio, casando com D. Lídia das Neves Pacheco, o grande amor da sua vida. É em Sintra, no seu atelier, que desenvolve estudos e trabalhos para muitas das peças, que se encontram espalhadas pelo nosso Concelho, nomeadamente a estátua a D. Fernando II (Rotunda do Ramalhão), Monumento ao Trabalhador Rural (S. João das Lampas), bustos do Dr. Desidério Cambournac (Estefânea), do Dr. Nunes Claro, de Leal da Câmara (Rinchoa) e de Ferreira de Castro (Museu Ferreira de Castro) e, entre muitos outros trabalhos, o Monumento ao Professor Primário (Cacém). A sua criação artística, não se limitou apenas à estatuária, muito pelo contrário, foi sobretudo na obra naturalista, que Anjos Teixeira (filho), se notabilizou. É em diversos trabalhos seus, de grande rigor técnico, que se nota o olhar atento de um grande observador, a interioridade do artista e os seus profundos conhecimentos de anatomia humana, destacando-se esta sensibilidade nas estátuas de nus – Sulamite e Homem com o Polvo, Os Perseguidos, entre outros, e de anatomia animal, em peças como, o Boi de Trabalho e os bois do Monumento ao Transporte do Vinho da Madeira. A sua versatilidade, permitiu-lhe também, a realização de inúmeros trabalhos de medalhística, os quais lhe eram solicitados pelas mais diversas instituições e entidades do nosso país, grande parte das quais, se encontram expostas no Museu de que é Patrono. Mestre Pedro Augusto Anjos Teixeira, faleceu em Sintra, a 20 de março de 1997 com 88 anos, sem deixar descendentes, mas legando-nos mais de novecentos trabalhos de escultura, desenhos, medalhística, altos e baixos-relevos, maquetas executadas em bronze, mármore e terracota, os quais se encontram espalhados em Portugal e no estrangeiro (texto Museu Anjos Teixeira).