Camponeses da Madeira, Jorge Freitas Branco, 2ª ed corr. e ampl., Funchal, 2019, ilha da Madeira.
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Jorge Freitas Branco. Camponeses da Madeira : as bases materiais do quotidiano no arquipélago (1750-1900) / - 2ª ed corr. e ampl. - [S.l.] : Serviço Publicações do Governo da Região Autónoma da Madeira, 2019.
No "Prefácio (da 1.ª edição)", o Antropólogo Jorge Freitas Branco afirma que «o papel histórico desempenhado pelo campesinato insular é a especificidade deste trabalho, daí o acento posto no tratamento dos aspectos materiais que sustentam o seu quotidiano». O livro está dividido em 4 partes: "O Eixo da Organização do Quotidiano", "Instrumentos e Processos de Trabalho", "Aspectos das Relações Sociais na Produção Agrícola" e "Factores de Transformação duma Ruralidade". Nesta segunda edição consta pela primeira vez, uma adenda denominada "Apêndice: A Madeira como Experiência Antropológica". Este suplemento foi anteriormente publicado com o título "Entre a imagem e a realidade: reflexões sobre a Madeira como experiência antropológica", nas Actas do I Congresso Internacional da História da Madeira realizado em 1986, tendo o autor alterado o subtítulo e suprimido a transcrição do debate, dando o testemunho da metodologia usada para a elaboração deste trabalho.
Jorge Freitas Branco dá conta da sua experiência de campo, mais concretamente entre Março de 1979 e Julho de 1980, onde registou apontamentos diários, normalmente ao fim do dia, considerados importantes para a sua reflexão pessoal e numa forma de compreender a realidade. Escolhe sobretudo a zona oeste da Madeira, também conhecida localmente como "Costa de Baixo", mais propriamente o concelho da Calheta, por estar supostamente distante da área de influência directa da cidade do Funchal e por ter um conjunto de produções agrícolas representativas da Ilha, como por exemplo a banana e a cana-de-açúcar, anotando aspectos dos amanhos agrícolas e outros como a construção de habitação própria ao fim-de-semana comum naquela época. A colaboração das "forças vivas" como os párocos, presidentes de juntas de freguesia e do município revelaram-se decisivas para a aceitação do investigador junto das populações rurais. As vendas, como as mercearias são designadas na Região, foram do mesmo modo essenciais para o contacto com os residentes e a compreensão do seu dia-a-dia. Reconhece diferenças entre os cultivos agrícolas no litoral e a serra, assim como o desenvolvimento socioeconómico dessas zonas, mais ricas e pobres, respectivamente. Os problemas de há 40 anos continuam actuais: o preço elevado e os aumentos frequentes dos fertilizantes, a falta de mão-de-obra para trabalhar ao dia e a emigração afectavam a actividade agrícola. Naquela altura, a pecuária e a criação de gado bovino para produção de leite era expressiva e um complemento significativo de rendimento para as famílias, mesmo que tivessem em média um animal por proprietário, utilizando-se o estrume dos animais para a fertilização dos terrenos. A propriedade e a posse da terra, o morgadio, o contrato de colonia, em geral, verbal, e o colono, são explicados de uma forma clara, com algumas referências cronológicas do período em estudo. Ao longo da obra, o Porto Santo é motivo de inúmeras informações sobre as culturas agrícolas com destaque para os cereais, a criação de gado, a escassez crónica de água, o avanço da areia sobre os terrenos cobrindo os cultivos e a obrigação régia de instalar-se vinhas para conter as areias trazidas pelos ventos na segunda metade do século XVIII, entre outras.