Boca de fogo inglesa do núcleo museológico do Forte de São Filipe do largo do Pelourinho, outubro de 2025, Funchal, ilha da Madeira.
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Descrição
Boca de fogo naval inglesa do núcleo museológico do Forte de São Filipe do largo do Pelourinho.
Ferro fundido, 3,0 metros; arsenal inglês, 1740 (c.).
Monograma de George Rex 2 coroado; Jorge II de Inglaterra (Hanôver, 10 nov. 1683; subida ao trono, 11 jun. 1726; Londres, 25 de out. 1760).
Projeto do Atelier RH+ ARQUITECTOS, parceria entre Roberto Castro, Hugo Gil Jesus, Cristina Perdigão e outros, 2018 (c.).
Fotografia de Rui Marote, 8 de outubro de 2025.
Largo do Pelourinho, Funchal, ilha da Madeira.
As antigas fortalezas costeiras das ilhas e costas do Atlântico, mas também do Índico e do Pacífico, encontram-se hoje equipadas/decoradas com bocas de fogo de ferro navais inglesas provenientes das praias próximas, na ordem de muitos milhares. Primeiro, porque as de bronze, sendo de material reciclável, só pontualmente chegaram aos nossos dias, depois, porque pelas ordenanças navais inglesas, as bocas de fogo de ferro que atingissem 300 disparos efetuados, deveriam ser obrigatoriamente lançadas na primeira praia onde o navio varasse, essencialmente, por questões de segurança, pois que os acidentes eram mortais para as guarnições e também, por não serem recicláveis. Dado o contexto do levantamento arqueológico, parece tratar-se de boca-de-fogo que, tendo tido acidente a bordo, foi depois lançada na praia do Funchal.
Cronologia do Forte de São Filipe:
1572: Regimento de Fortificação determinando a Mateus Fernandes a construção de uma muralha ao longo da Ribeira de João Gomes e a construção de "estância" na foz da ribeira e na muralha da frente mar, "no calhau, junto de Nossa Senhora, abaixo da ponte da parte da cidade", "para dela se guardar o lanço do muro da fortaleza que ora está feita" (São Lourenço) "e do través que a dita fortaleza tem da parte do mar, junto do cubelo grande." Deveriam ter os muros "vinte palmos" (4 metros), "pera por cima deles se poder atirar ao mar e jogar artilharia pela barba". Se houvesse necessidade de bombardeiras para qualquer parte da fortificação, dever-se-iam fazer, com "suas mantas, para cobrirem e guardarem aos que com a artilharia atirarem";
1574: tomada de casas junto à ponte de Nossa Senhora do Calhau para a construção da fortaleza;
1578, 11 jul.; testamento de António Álvares, por alcunha o Nordeste, deixando umas casas à mulher, onde viviam, junto a Nossa Senhora do calhau, "que se desmancharem por causa da fortaleza, o provedor, com o dinheiro delas, comprará outra propriedade";
1581, verão; chegada de D. Agustin de Herrera, conde de Lanzarote com 200 milicianos das Canárias e alguns artilheiros alemães, aquartelados em São Lourenço, sob o comando do capitão Luís Melo, despachando-se a guarnição que estava em São Lourenço para a fortaleza nova, que fica comandada pelo capitão maiorquino Juan León Cabrera;
1581, out.; informação do capitão Luís Melo dada em Lisboa a D. Francés de Alava da situação da Madeira e do Funchal, fornecendo desenhos com a nova fortaleza pronta e artilhada;
1583, 5 jan.: testamento do oleiro Gaspar Fernandes e de sua mulher Margarida Lopes, servindo de testemunha o ourives Francisco Diniz, citando-se que viviam numas casas "junto à ponte de São Cidrão e que entestavam com os muros da fortaleza nova da banda do mar".
1609; obras na área da fortaleza, nos "muros da Tintureira", onde trabalhavam João Falcato e Bartolomeu João, filhos do mestre-das-obras reais Jerónimo Jorge;
1622: era condestável da fortaleza Francisco Anes, que assim se identifica na compra de uma terras de pão e pomar, em N.ª S.ª da Graça, na Calheta, feita pelo castelhano Andreas de Montemayor, condestável da "Fortaleza Velha", ou seja São Lourenço;
1641, 22 mar.; posse de Manuel Soares Pinheiro como condestável da "fortaleza Nova da Praia";
1642; obras várias de manutenção, em junho, pagando-se tábua e meia de pinho para cobrir as selhas da pólvora, assim como pagou $050 réis a 2 pretos que lavaram a praça da artilharia; em setembro, outros pagamentos para os reparos dos falcões; em outubro, para se fazer a guarita, comprando-se madres de barbuzano, tabuado de til e pregos, tendo o trabalho sido executado pelo mestre Mateus Rodrigues, ajudado por 4 pretos;
1654: representação da fortaleza nova na Descrição de Bartolomeu João;
1724: descrição a partir desta data do movimento das peças no Livro de Carga da Fortificação e das posses dos vários condestáveis;
1772: grande panorâmica do Funchal executada pelo pintor e gravador Thomas Hearne, com o perfil do forte de São Filipe;
1803, 9 out.: grave aluvião no Funchal e na restante ilha, danificando muito a fortaleza;
1804, out.: planta do Funchal do brigadeiro Reinaldo Oudinot documentando os estragos gerais feitos pela aluvião;
1817: Descrição da ilha da Madeira por Paulo Dias de Almeida, onde se apresenta um projeto de ampliação para a fortaleza, que nunca seria feito;
1820: conjunto de desenhos feitos a partir dos de 1817, mas onde se não indica já o projeto de ampliação;
1839: planta da baía do Funchal e onde se volta a propor a ampliação da fortaleza, acompanhando o desenho de uma planta de pormenor;
1841: Reconhecimento Militar da ilha da Madeira com as plantas das suas fortalezas, do capitão António Pedro de Azevedo, com planta e alçado da Fortaleza de São Filipe do Largo do pelourinho;
1851, 21 out.; decreto nomeando governador interino do forte João José de Sá Bettencourt, estando o forte ocupado por elementos do batalhão de veteranos do Funchal;
1855: planta das fortificações da ilha da Madeira de António Pedro de Azevedo, com a linha fortificada do Funchal e quase todas as fortalezas em planta ampliada, exceto a de São Filipe, sinal da sua insignificância à época;
1866: Planta do forte de São Filipe, também de António Pedro de Azevedo, com a indicação da ruína da parte nascente da fortificação;
1870 a 1880: primeiras fotografias conhecidas da fortaleza, já muito arruinada;
1898, 20 dez.: planta da esplanada e do forte de S. Filipe perto da data em que foi entregue à Câmara Municipal do Funchal;
1920 (c.): reforma das edificações da área e aproveitamento das estruturas do forte para o edifício da SOCARMA;
1978, Incêndio na edifício da SOCARMA;
1989, jun.; demolição do edifício da SOCARMA e projeto de reposição do Largo do Pelourinho, efetuado a partir dessa data;
1992, fev.: escavações pontuais de emergência na área do antigo forte de São Filipe, colocando a descoberto a ligação do antigo edifício da SOCARMA às estruturas do forte;
2010, 21 fev.: devastadora aluvião no Funchal afetando profundamente toda a baixa da cidade;
2013, abr.; aparecimento de estruturas do antigo forte, então com as obras de reformulação da frente mar e da foz da ribeira de Santa Luzia;
2015, jun.; remontagem do cunhal da muralha do forte sobre a ponte da Ribeira de Santa Luzia;
2018, abr.; concurso de empreitada para a criação da “Galeria de visita às ruínas do Forte de São Filipe” pela secretaria Regional do Turismo e Cultura no valor de 240 mil euros;
2019, 22 fev.: devastador incêndio na antiga fábrica da Insular de Moinhos quando já estava equacionado o projeto Savoy Residence Insular.
2021, dez.: autorização do Conselho de Governo para a realização da despesa inerente à empreitada de 3.000 000,00 euros sem IVA da obra do Forte de São Filipe.
2022, 28 abr.: adjudicação da obra pelo preço de 3.591.682,64 euros, com prazo de execução de 360 dias.
2023, 27 jun.: visita às obras de construção do Núcleo Museológico das ruínas do forte de São Filipe, localizado no Largo do Pelourinho por Miguel Albuquerque, PGR, anunciando-se a abertura do espaço para finais de agosto ou inícios de setembro desse ano (2023).