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Arquipelago de Origem:
Portugal
Data da Peça:
Data de Publicação:
06/11/2023
Autor:
Pedro Ferreira
Chegada ao Arquipélago:
2023-11-06
Proprietário da Peça:
Condes de Anadia
Proprietário da Imagem:
Universidade de Coimbra
Autor da Imagem:
Universidade de Coimbra
Agulha de marcar ou agulha azimutal, Pedro Ferreira, Lisboa, 1785, coleção Condes de Anadia, Lisboa, Portugal.

Categorias
    Descrição
    Agulha de marcar
    Agulha Azimutal, vulgo bússola náutica
    Madeira, vidro, papel, metal, 33 × 33 × 18 cm.
    Pedro Ferreira, Lisboa, 1785.
    Coleção Condes de Anadia, Lisboa, Portugal.
    Pub. in Os Portugueses no Golfo, 1507–1650, uma história interligada, The Portuguese in the Gulf, 1507–1650, an interlinked history, catálogo de exposição na Feira do Livro do Emirado de Sharjah, Emirados Árabes Unidos, 1–12 novembro 2023, com coordenação científica de José Pedro Paiva e Roger Lee de Jesus, apresentação/introdução de Ahmed Bin Rakkad Al Ameri, presidente da Sharjah Book Authority, Centro de História de Sociedade e Cultura da Universidade de Coimbra, Imprensa da Universidade, março de 2023, nº 10, pp. 36 a 39.

    Este instrumento, foi construído em Lisboa por Pedro Ferreira Portugal, provavelmente filho de um cartógrafo chamado Manoel Ferreira Portugal, autor de quatro cartas náuticas feitas durante o século XVIII, e também autor de 4 das dezasseis agulhas de marcar portuguesas, conhecidas até agora, uma das quais muito semelhante, datada de 1755 e hoje no Museu de Marinha. Não só para navegar próximo à costa, mas principalmente para navegar em alto mar, são necessários alguns meios de conhecer a direção do navio em relação à terra.
    No Oceano Índico, principalmente na sua parte norte, e na sequência da expansão islâmica, como a navegação se dava entre o subcontinente indiano e a costa nordeste africana, ou seja, se navegava entre os trópicos no sentido leste-oeste, foram utilizadas as estrelas. De facto, como a área de navegação era entre os trópicos, o que significa baixas latitudes, a direção do nascimento e ocaso das estrelas, era quase invariável. Assim, as técnicas de navegação árabes empregaram as estrelas como indicadores de direção e introduziram a agulha sideral, que foi usada por navegadores indianos, árabes, persas, malaios e chineses. No entanto, a agulha magnética era conhecida pelas culturas acima referidas, e era utilizada principalmente pelos chineses para dar a direção sul no mar, ou no interior para outros fins. No mundo islâmico era usada também para a determinação da quibla ( القبلة )ou seja, a direção de Meca. No Ocidente, a primeira referência à agulha magnética dá-se durante o início do século XII e na China no século XI. O aperfeiçoamento final da agulha magnética, consistindo na introdução de uma rosa dos ventos e de um suporte físico adequado, foi feito no Mediterrâneo, na cidade-estado de Amalfi, pouco depois de 1300 d.C. Foi o que prevaleceu até agora, com melhorias, claro, mas os principais “ingredientes” ainda estão lá. E sobreviveu ao GPS! Durante o início da expansão marítima portuguesa, em meados do século XV, quando os seus marinheiros exploravam a África navegando ao longo da costa e descobrindo as ilhas do Atlântico, a agulha magnética foi utilizada com as primeiras cartas náuticas, a bordo dos navios, para encontrar e manter o rumo para o porto de destino. O mesmo aconteceu no Mediterrâneo e na costa atlântica do noroeste da Europa. Mas a agulha magnética nem sempre indicava o Norte verdadeiro (dizemos agora que tem declinação), como foi reconhecido pelos chineses, pelos europeus e pelas culturas islâmicas durante os séculos XIII a XIV. Mas à medida que a expansão portuguesa progrediu, novas ilhas, novas costas e novas rotas marítimas foram sendo encontradas e foi levado em consideração o ângulo entre a agulha magnética e o norte verdadeiro, também chamado de variação da agulha, reconhecendo-se que era necessário determinar o seu valor, visto que variava de lugar para lugar.
    A primeira agulha construída para este fim, foi sugerida por João de Lisboa, um famoso piloto, no seu Livro de Marinharia (c. 1514). Projetada para observar a Polar ou Estrela do Norte, a agulha, com suas duas pínulas, permitia ao observador ver na graduação, o ângulo entre o norte verdadeiro e o magnético, que era a variação. Note-se que se tornava necessário observar a estrela nas posições do seu movimento diurno, em que a mesma indicava o norte geográfico. Uma das razões para João de Lisboa determinar a variação, foi a sua convicção que a declinação magnética variava regularmente segundo um meridiano, pelo que conhecê-la, permitiria saber a longitude do lugar. Verificou-se mais tarde, que esta ideia estava errada, mas o uso da variação para ter uma ideia do progresso em longitude e encontrar terra, depois de muitos dias no mar, navegando sobre o paralelo do porto de destino, foi um dos melhores meios para garantir, com segurança, a aterragem no referido porto. Para este efeito, os pilotos durante as viagens observavam frequentemente a variação e registavam essa informação numa carta náutica. Essas informações, colhidas e registadas em muitas viagens, poderiam permitir o desenho do equivalente às hoje chamadas linhas de igual variação, ou isógonas. Na imagem (deste catálogo), que representa a derrota de um navio português que partiu de Lisboa para dobrar o Cabo da Boa Esperança, podemos ver aquelas hipotéticas linhas isogónicas. Assim, se quando nos aproximamos do Cabo, e navegarmos sobre o seu paralelo, derrota que corrigimos por observações do sol durante a passagem meridiana, e descobrimos por observação frequente o valor da variação, quando o seu valor for, por exemplo, de 10º W, o navio estará aproximadamente na posição indicada a vermelho, que corresponde à intersecção da linha isogónica de 10º W com o paralelo de latitude. Este procedimento foi amplamente utilizado pelos portugueses e, durante os séculos XVI e XVII, foram desenvolvidos métodos e instrumentos para encontrar a variação, que culminou, na primeira década do século XVII, com a introdução de uma agulha de marcar, especialmente concebida para calcular este importante elemento. Este método inovador, consistia em observar a direção do Sol ao nascimento e ocaso, medindo o ângulo que essa direção fazia com os pontos cardeais leste ou oeste. Este ângulo designa-se por amplitude. Comparando esta amplitude magnética observada, com a amplitude verdadeira previamente tabelada, determinava-se a variação.
    A primeira descrição da agulha de marcar, foi feita pelo cosmógrafo-mór Manuel de Figueiredo na sua Hidrografia, Exame de Pilotos (1614) e a segunda, pelo piloto Diogo Afonso no seu Roteiro da Carreira da Índia (segunda década do séc. XVII). Comparando a representação esquemática da agulha de marcar na página seguinte, com os diversos componentes da agulha, podemos ter uma ideia de suas características físicas. Para observar o Sol, no nascimento ou no ocaso, o instrumento era elevado à altura dos olhos, e olhando através das frestas e alinhando a mirada com as linhas verticais nelas desenhadas, o valor da amplitude magnética era lida na aba vertical. Então, como já afirmado acima, a comparação da amplitude magnética, com a amplitude real dada por uma tabela, calculada em função da latitude do observador e da declinação do Sol, fornecerá a variação da agulha. Note-se que o instrumento apresentado, é uma das dezasseis agulhas de marcar portugueses encontrados até agora, que pertencem a coleções de museus portugueses e de outras nações. [José Manuel Malhão Pereira]