Image
Arquipelago de Origem:
Óbidos
Data da Peça:
1615-00-00
Data de Publicação:
Autor:
Belchior de Matos
Chegada ao Arquipélago:
2025-10-25
Proprietário da Peça:
Museu Municipal de Óbidos
Proprietário da Imagem:
Rui Carita
Autor da Imagem:
Rui Carita
Santa Helena e a Invenção da Santa Cruz, óleo de Belchior de Matos, 1615 (c.), Museu Municipal de Óbidos, Portugal.

Categorias
    Descrição
    Santa Helena e a Invenção da Santa Cruz.  
    Óleo sobre madeira de carvalho, .
    Oficina de Belchior de Matos (c. 1570/75-1628), 1615 (c.)
    Fotografia de 17 de outubro de 2025.
    Museu Municipal de Óbidos, Rua Direita, 57, Óbidos, Portugal.

    Belchior de Matos (c. 1570/75-1628) radicou-se nas Caldas da Rainha a partir de 1595, onde trabalhou para o Hospital Real e para a igreja daquela instituição, dedicada a Nossa Senhora do Pópulo, onde executou uma série de trabalhos e de “restauros”, trabalhando em simultâneo nas obras encomendadas a Diogo Teixeira (1540-1612) para a Capela do Espírito Santo desta cidade. Sendo um artista com fixação regional, acabou por assegurar muitas encomendas para diversas instituições locais, em A-dos-Negros, Atouguia da Baleia, Carvalhal Benfeito e Geraldes. Em Óbidos deixou grande parte da sua produção, pintando o retábulo da Capela de N. S. de Monserrate (Ordem Terceira de São Francisco) c. 1599-1600; retábulo da ermida de Santo Antão; e os retábulos da capela-mor (1615) e do Santo Crucifixo (1626) da igreja da Santa Casa da Misericórdia.
    O seu nome está ligado a um dos mais interessantes episódios da história da pintura em Óbidos. Em 1615, este discípulo de Diogo Teixeira, recebe uma encomenda da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos relativa à execução de um retábulo. Contudo, atendendo a que o retábulo encomendado não era de qualidade merecida a este templo e talvez porque a decisão da sua encomenda não tivesse sido pacífica, esta obra era ainda alvo de discussão doze anos depois. A 25 de abril de 1627 a Mesa Administrativa da Santa Casa toma a decisão de não concluir a obra do retábulo de
    Belchior de Matos, devendo os painéis ser removidos para adorno de vários espaços (sacristia e casa do despacho). Em contrapartida, contratou-se a André Reinoso (c. 1590-1650) uma nova máquina retabular, desta vez maior, mais sumptuosa e totalmente “vanguardista”. As tábuas do retábulo primitivo representavam diversos passos da vida do mártir São Sebastião e revestem-se de um carácter muito adequado ao discurso da contra-reforma católica, profundamente relacionado com os cânones de produção maneirista. Contudo, tal como na restante obra de Belchior de Matos, a capacidade criativa e de concretização técnica não é muito elaborada, mantendo-se ligada a um conservadorismo excessivo e anacrónico. Não deixa de ser uma obra com características identitárias muito definidas e até, à época, com uma enorme aceitação. Veja-se a dispersão regional das suas obras que, grosso modo, se estendem desde Alcobaça a Mafra, com maior incidência nas Caldas da Rainha e Óbidos. Do retábulo maneirista da Misericórdia restam apenas duas peças, Santa Irene Sarando as Feridas de São Sebastião e São Sebastião Perante o Imperador.
    Em Óbidos podemos observar outras obras deste artista como retábulo da ermida de Santo Antão, o retábulo da capela de N. S. de Monserrate (ambas in situ) e uma outra tábua que compunha o
    retábulo do Santo Crucifixo, também este outrora na igreja da Misericórdia. Esta peça, hoje no Museu Municipal, representa Santa Helena e a Invenção da Santa Cruz, também conhecida por
    Descoberta das Três Cruzes por Santa Helena. É uma das obras mais expressivas e características de toda a produção artística de Belchior de Matos, uma extraordinária referência ao ambiente
    religioso contra-reformista vivido na época. Como uma das últimas obras da carreira do artista revela uma série de valores estéticos, cromáticos e técnicos típicos, sendo em si uma obra se síntese e de maturidade.
    O Museu Municipal de Óbidos foi inaugurado a 15 de junho de 1970, pelo então presidente da República, almirante Américo Deus Rodrigues Tomás (1894-1987) o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Alves Cerejeira (1888-1977) e diversas autoridades do Governo, ocupando um palacete dos meados do século XVII e XVIII, que chegou a servir também de prisão municipal e, no XX, foi residência do pintor Eduardo Malta (1900-1967), que lhe deu parte do aspeto de palácio que hoje apresenta. Foi seu primeiro diretor o então presidente da Câmara, Albino de Castro e Sousa (1922-1984). A exposição permanente testemunha a ação das colegiadas religiosas, paróquias, da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos e outras entidades, destacando-se a coleção de pintura dos séculos XVI e XVII, onde constam obras de Belchior de Matos (1570-1628), André Reinoso (c. 1590-1650), ativo entre entre 1610 e 1641, e Josefa d’Óbidos (1630-1684).