Martírio de São Bento, óleos da oficina de Diogo Teixeira, 1590 (c.), Museu Municipal de Óbidos, Portugal.
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Descrição
Martírio de São Bento
Óleo sobre madeira de carvalho, .
Oficina de Diogo Teixeira (c. 1540-1612) e do genro e discípulo António da Costa (c. 1560-1623), 1590 (c.)
Fotografia de 17 de outubro de 2025.
Museu Municipal de Óbidos, Rua Direita, 57, Óbidos, Portugal.
Diogo Teixeira (c. 1540-1612) nasceu no seio de uma família nobre e é um caso raro da História da Pintura em Portugal, já que a atividade que exercia à época era entendida como um ofício
mecânico, pelo que não era própria do seu estatuto social. Trabalhou essencialmente na área de Lisboa e teve a particularidade de desenvolver um contencioso jurídico com a Câmara dessa
cidade, assumindo uma posição contrária ao pagamento de impostos pelo exercício da pintura e por outras obrigações mesteirais. Para Diogo Teixeira a pintura não era um mero ofício, mas sim uma fórmula criativa, sendo a primeira vez que o problema da dignificação do estatuto do artista se coloca com tanta premência. Acaba por vencer na contenda com Lisboa sendo o primeiro pintor português a abrir o precedente e a estabelecer um dilema que só veio a ser resolvido duzentos anos depois com a clara afirmação do estatuto das artes e dos artistas. Cavaleiro Fidalgo da Casa de D. António, Prior do Crato (1531-1595) apoiou as pretensões e o curto reinado deste rei em detrimento de Filipe II (1527-1598) de Castela, pelo que veio a sofrer algumas represálias após a união das Coroas Ibéricas. Nos primeiros anos do domínio filipino, talvez devido a questões políticas ou meramente pelas dinâmicas empregadoras da região, crê-se que este artista tenha vindo para Óbidos onde pintou o retábulo de São Brás, um Ecce Homo ou Senhor da Cana Verde (1592) e a bandeira da Santa Casa da Misericórdia (1592), esta parecendo representar as feições de D. António Prior do Crato. O estilo da pintura de Diogo Teixeira foge determinantemente aos cânones norte europeus, reportando para uma formação maneirista italianizante, aliás em acordo com a sua aprendizagem. A iconografia representa três passos do martírio de São Brás: sendo torturado preso a um cepo, mas assumindo uma postura serena em sinal de oferta das suas dores a Deus; andando sobre o lago, olhos postos num anjo, mensageiro do Senhor, com a sua mão direita sobre o peito em sinal de Fé, deixando com que todos os restantes infiéis se afogassem; e, por último, sendo degolado, obtendo, desta forma, a glória do martírio e a participação no Paraíso.
O Museu Municipal de Óbidos foi inaugurado a 15 de junho de 1970, pelo então presidente da República, almirante Américo Deus Rodrigues Tomás (1894-1987) o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Alves Cerejeira (1888-1977) e diversas autoridades do Governo, ocupando um palacete dos meados do século XVII e XVIII, que chegou a servir também de prisão municipal e, no XX, foi residência do pintor Eduardo Malta (1900-1967), que lhe deu parte do aspeto de palácio que hoje apresenta. Foi seu primeiro diretor o então presidente da Câmara, Albino de Castro e Sousa (1922-1984). A exposição permanente testemunha a ação das colegiadas religiosas, paróquias, da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos e outras entidades, destacando-se a coleção de pintura dos séculos XVI e XVII, onde constam obras de Belchior de Matos (1570-1628), André Reinoso (c. 1590-1650), ativo entre entre 1610 e 1641, e Josefa d’Óbidos (1630-1684).