Vitrina com esculturas de pau-preto do contra-almirante Alfredo Motta, escultores Makondes, 1950 (c.), coleção do neto, Manuel Galvão de Melo e Mota Algés, Portugal.
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Descrição
Vitrina com esculturas de pau-preto
Madeira esculpida e patinada de dalbergia melanoxylon, ou mpingo, dito pau-preto.
Escultores Makondes, 1950 (c.), Moçambique.
Proveniente de coleção do contra-almirante Alfredo Motta (1894-1984) .
Fotografia de 3 de agosto de 2024.
Coleção do neto, professor catedrático aposentado Manuel Galvão de Melo e Mota (1953-), Algés, Portugal.
A utilização da madeira dita pau-preto parece ser uma introdução colonial das missões católicas do Norte de Moçambique, dada a dificuldade do trabalho desta madeira particularmente dura e, daí, também a sua fragilidade. Assim, se desde os séculos XVI e XVII fosse utilizada para mobiliário, pelo menos em África e pelos Makondes, ao que tenhamos conhecimento, não o era para a escultura. A qualidade final obtida e o valor comercial desta madeira, entretanto, ditaram novas regras ao mercado, de tal forma que este tipo de árvore já se encontra extinta em vários países africanos e é já muito rara na Tanzânia e em Moçambique. Estas árvores já começam a ser cultivadas, mas ainda sem conseguir suprir a demanda, principalmente porque a árvore leva de 70 a cem anos para amadurecer.
Os Makondes são um povo da África oriental que habita 3 planaltos do norte de Moçambique, as margens do Rovuma e o sul da Tanzânia, na ordem de 1.260.000 indivíduos, mantendo ainda aspetos da sua religião animista tradicional, embora a maior parte da população seja hoje cristã. Têm como atividades principais, a agricultura e, hoje, são essencialmente conhecidos pela sua escultura, onde se reflete visualmente muito da sua cultura, como a antiga utilização de batoque labiais, a mutilação dos dentes incisivos e as abundantes tatuagens, aspetos hoje já muito pouco usados. São um povo Bantu, provavelmente originário de uma zona a sul do lago Niassa, na fronteira entre Moçambique, Malawi e Tanzânia, apresentando semelhanças culturais com o povo Chewa, que ainda hoje habita aquela vasta zona, devendo ter pertencido, em tempos remotos, a uma grande federação Marave, que teria iniciado a sua migração para nordeste, ao longo do vale do rio Lugenda. Mantiveram-se muito isolados até tarde e só nos inícios do século XX é que os portugueses, que colonizavam Moçambique, conseguiram controlar as zonas por eles habitadas, dada a sua instalação em planaltos e florestas densas, tal como por terem ganho uma certa imagem de violentos e irascíveis, ajudando à criação dessa imagem o cortarem os dentes da frente para implantarem batoques labiais (lip plug), ou seja, o adorno nndoma ou ndonya, cobrindo o corpo com abundantes tatuagens relevadas e conseguindo, assim, manter uma forte coesão cultural. Nesse quadro, as missões católicas só se conseguem fixar nos seus territórios a partir dos anos 20 do passado século, tendo as conversões ao cristianismo começado apenas por volta de 1930.