Pente tchokwe rematado por figura de Kuku ou pensador do Museu de Berlim, escultor Chokwe, 1930 (c.), Lunda, Angola
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Descrição
Pente Chokwe.
Chokwe Personal Comb Angola
Cisakulo
Madeira entalhada e patinada, 16,3 x 4 x 2,9 cm.
Escultor Chokwe, 1930 (c.), Leste de Angola.
Proveniente da campanha de Hermann Baumann (1902-1972), Lunda, 1938, Angola.
Museu Etnográfico de Berlim, Staatlichen Museen zu Berlin (Ident. Nr.: III C 35290), Alemanha..
Os Chokwe, beneficiando do comércio de marfim, borracha, cera e escravos africanos, emergiram ao longo do século XIX na savana da atual República Democrática do Congo e Angola tornando-se parceiros comerciais ativos com os comerciantes da Europa e do Novo Mundo. Como importantes governantes regionais, o seu prestígio e poder reflete-se na arte que encomendavam para as suas cortes, como as esculturas dos seus antepassados, as cadeiras em que se sentavam para receber os comerciantes europeus, ou as máscaras para os seus ritos de passagem, onde se definia a coesão social. O ancestral dos Chokwe é o herói cultural Chibinda Ilunga, lendário caçador, em princípio, Luba e que tendo casado com a rainha Lunda Lueji A'Nkonde (c. 1635- c. 1670), deram origem ao reino Chokwe, que se separa assim do velho reino Lunda. A sua história em Angola foi levantada pelo general Henrique Augusto Dias de Carvalho (1843-1909), Expedicao portuguesa ao Muatian vua (1884-1888). Ethnographia e historia tradicional dos povos da Lunda, 1890, mas a divulgação da sua escultura ficou a dever-se, especialmente, à investigadora Marie-Louise Bastin (1918-2000), La Sculpture Tshokwe, Paris, Alain et Françoise Chaffin, 1982. Este trabalho nasceu da constituição do Museu do Dundo, a partir de 1936, na sede da então Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), que convidou esta investigadora da Universidade Livre de Bruxelas e colaboradora do Musée Royal de l'Afrique Central, geralmente designado como Museu de Tervuren, a partir de 1961, a permanecer algum tempo naquele museu. Veio assim a nascer o reconhecimento internacional da Arte Chokwe como uma das mais refinadas escolas de escultura subsarianas e, quase em paralelo com a corte do Benim, atingindo as suas peças os mais altos preços nos mercados internacionais de arte.
A primeira referência a uma figura nesta posição foi de José Redinha (1905-1983), primeiro diretor do museu do Dundo, como encontrada em 1936, no Chitato, a 30 minutos da cidade do Dundo, num cesto de adivinhação (Ngombo), medindo 16 centímetros. Nos anos seguintes apareceram outras e noutros contextos, como em pentes e apitos tchokwe, mas também como esculturas dos outros grupos confinantes com os Tchokwe, como os Songye (The Amy & Elliot Lawrence Collection, leilão Sotheby's de 2022) e outros. Foi no Museu do Dundo que surgiu a ideia de apelidar a figura de Pensador, ou Samanhonga, em Chokwe, em vez da sua efetiva referência deveria ser de “Kuku” ou de “Kaka”, que quer dizer ancião ou anciã e assim gozando de um estatuto especial de intermediário no contacto entre os vivos e os antepassados. A eles, os membros da família e do povoado recorriam para se consultarem e se aconselharem sobre problemas espirituais e outros. A partir de 1947, senão algo antes, passou a ser a escultura de eleição dos escultores da aldeia do Museu do Dundo, tendo sido reproduzida na ordem das muitas centenas de exemplares e de forma algo estilizada. A peça dita "original", em princípio, a recolhida em 1936, pois que no museu ficaram outras, foi depositada no Museu Nacional de Antropologia, em Luanda, mas viria a ser roubada no conturbado contexto da guerra civil, o mesmo acontecendo a muitas outras peças do Museu do Dundo e, inclusivamente, parte dos arquivos do mesmo museu. A sua divulgação, no entanto, continuou a crescer e em 1984 foi escolhida como um dos símbolo da cultura nacional de Angola.