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Arquipelago de Origem:
Índia
Data da Peça:
1650-00-00
Data de Publicação:
09/11/2023
Autor:
Pintor mogol
Chegada ao Arquipélago:
2023-11-09
Proprietário da Peça:
BNF
Proprietário da Imagem:
Universidade de Coimbra
Autor da Imagem:
Universidade de Coimbra
Retrato de dois portugueses a conversar, Índia, 1650 (c.), Biblioteca Nacional de França, Paris, França.

Categorias
    Descrição
    Retrato de dois portugueses a conversar
    Guache e ouro sobre papel, 29,8 × 19,4 cm.
    Índia, 1650 (c.).
    Biblioteca Nacional de França (département Estampes et photographie, RESERVE4-OD-49, vue 57, fl. 25r), Paris, França
    Pub. in Os Portugueses no Golfo, 1507–1650, uma história interligada, The Portuguese in the Gulf, 1507–1650, an interlinked history, catálogo de exposição na Feira do Livro do Emirado de Sharjah, Emirados Árabes Unidos, 1–12 novembro 2023, com coordenação científica de José Pedro Paiva e Roger Lee de Jesus, apresentação/introdução de Ahmed Bin Rakkad Al Ameri, presidente da Sharjah Book Authority, Centro de História de Sociedade e Cultura da Universidade de Coimbra, Imprensa da Universidade, março de 2023, nº 60, p. 163.

    Os primeiros encontros da Índia portuguesa com a Índia mogol — cujos imperadores governaram a maior parte do subcontinente desde o último terço do século XVI até aos inícios do século XVIII — ocorreram no Guzerate nos anos de 1530, mas apenas quatro décadas mais tarde as interações entre as duas formações imperiais se tornaram sistemáticas. Não sem tensões políticas e mal-entendidos culturais, as relações entre Portugueses e Mogóis alcançaram o seu auge durante os reinados de Akbar (r. 1556–1605) e Jahangir (r. 1605–1627). Várias embaixadas mogóis foram enviadas a Goa (a capital do Estado da Índia) desde os anos de 1570, enquanto os sucessivos vice-reis portugueses aproveitaram a presença regular de missionários jesuítas na corte imperial a partir da mesma década para os utilizar frequentemente como agentes políticos.
    Os impactos culturais desta constante interação foram muitos, desde debates religiosos e discussões de livros a escritos etnográficos e trocas de objetos. Uma das manifestações mais relevantes das ricas experiências transculturais que se desenvolveram na corte mogol durante o período foi o forte interesse na arte ocidental manifestado pelo imperador, outros membros da família imperial e alguns nobres mogóis. Este interesse foi desencadeado por uma combinação de curiosidade cultural e ideologia imperial que tem suscitado grande interesse académico nas últimas décadas. Basta notar que distintos temas e técnicas características das pinturas, gravuras e objetos europeus foram consequentemente trazidos para a arte mogol através do trabalho de artistas imperiais de diversas proveniências que foram patrocinados por soberanos e príncipes mogóis. Muitas destas importantes composições sobreviveram tanto em álbuns encadernados como em folhas soltas, e estão guardadas em museus e bibliotecas públicas, bem como em coleções privadas um pouco por todo o mundo. Entre elas, um tema sobressai em particular: a representação de figuras humanas, sejam eles padres jesuítas, quase sempre representados nas suas vestes negras, ou portugueses e outros indivíduos europeus. Estas personagens podiam ser vistas regularmente em várias cidades imperiais e depressa entraram na imaginação mogol.
    Esta pintura mogol é apenas uma peça do grande puzzle acima descrito. Mostra dois homens portugueses em conversa descontraída e retratados no seu traje típico, incluindo os chapéus que se transformaram numa imagem de marca das descrições originárias da Ásia do Sul (visuais e escritas) acerca dos portugueses. A pintura aqui apresentada faz parte de um álbum que chegou à posse do colecionador francês do século XVIII Jean-Baptiste-Joseph Gentil (d. 1799). Gentil acumulou uma impressionante variedade de pinturas e manuscritos durante a sua estadia na Índia. A maioria deles entrou na Bibliothèque du Roi em 1778 e encontram-se hoje na Biblioteca Nacional Francesa, Paris. [Jorge Flores]