Madeira. Mercado de Peixe, bilhete-postal de 1900 (c.), Funchal, ilha da Madeira.
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Descrição
Madeira. Mercado de Peixe.
Fish market
Homens a esquartejar atum.
Bilhete-postal animado Manuel Olim Perestrello (1854-1929) (?), 1900 (c.).
Foz da Ribeira de Santa Luzia, Funchal, ilha da Madeira.
O Mercado de Peixe e Matadouro Municipal da foz da Ribeira de Santa Luzia
A partir dos finais do séc. XVI e com a regulamentação das chamadas Ordenações Filipinas, elaboradas com base nas várias ordenações anteriores, foram-se configurando melhor as funções dos almotacés e, ao longo do XVIII, foi mesmo montada a Casa da Almotaçaria do Funchal, junto à foz da Ribeira de Santa Luzia. Configurava-se e concentrava-se, assim, uma zona de serviços para entrada dos reabastecimentos da cidade, que deixava de ser o Cabo Calhau, ou seja, Santa Catarina e Corpo Santo, passando nos anos seguintes, a partir de 1817, inclusivamente, a ser nesta área central que se descarregava o pescado, situação que se manterá até às primeiras décadas do século XX.
A Câmara Municipal do Funchal, a 20 de maio de 1791, resolveu elaborar um orçamento para a edificação de um matadouro municipal também junto da citada Casa da Almotaçaria, tendo pedido ao Real Erário, em 1795, um empréstimo de 400$000 réis para levar a efeito a edificação. Mesmo antes de construir o matadouro, em 9 de setembro de 1825, já a Câmara determinava a transferência dessas atividades para a foz da Ribeira de Santa Luzia, ficando os almotacés autorizados a punir os magarefes e esfoladores que matassem gado fora desse local. Dez anos depois, sensivelmente, já ali funcionava o chamado Mercado de São Pedro, mas que aparece quase sempre mais associado à venda de peixe, que de carne.
Face à deslocação das almotaçarias para a foz da Ribeira de Santa Luzia, nos meados de 1838 procedia-se à demolição das Portas da Saúde, abrindo, assim, o que seria depois a Avenida Zarco, embora a sala de reuniões dos guardas da saúde ainda ali se mantivesse algum tempo. No seguinte ano de 1839, igualmente se obtinha autorização para a demolição do troço da muralha da cidade junto da Ribeira de Santa Luzia, para ampliação do Mercado de São Pedro e da Praça de Peixe, obra colocar em praça a 8 de fevereiro de 1839 e que abrira solenemente a 29 de junho de 1840. Teria, no entanto, uma curta vida de somente dez anos.
Em 1851 o mercado de São Pedro foi reformulado e anexado ao Matadouro Municipal, com projeto do engenheiro camarário Vicente de Paula Teixeira de Nóbrega (1785-1855), que projetara também o anterior. Nasceram então dois edifícios gémeos com dois pisos e dois corpos, assentes numa ampla plataforma base comum de inspiração quase militar e abaluartada, com cunhais de aletas de cantaria aparente: a nova Praça de Peixe, herdeira do antigo Mercado de São Pedro, a poente e o Matadouro Municipal, a nascente. O conjunto edificado era dotado de largo portal virado ao calhau da praia, encimado pelas armas camarárias em mármore continental, com a data de 1851, emolduradas e com remate curvo em cantaria rija local. Por este portão deveria entrar o peixe e as reses para abate, quase todas vindas por via marítima, ocorrendo o abate, por certo, nesse piso térreo e, o esquartelamento, no piso de cima.
A plataforma superior era dotada de grade com pilastras de cantaria, não ocupando os corpos superiores todo o espaço, deixando corredores a nascente e a poente para circulação. Os dois edifícios superiores articulavam-se ambos para norte ainda com dois telheiros cada um, que constituíam, efetivamente, as áreas de mercado. Nos inícios do século XX este conjunto ainda foi dotado de um reservatório de água elevado, montado no meio dos telheiros e que substituiu um anterior poço central, de que se conhecem fotografias.