Cesto com Bolos e Toalhas, óleo de Josefa de Óbidos, 1640 a 1660 (c.), Museu Municipal de Óbidos, Portugal
Categorias
Descrição
Natureza Morta com folares da Páscoa.
Cesto com Bolos e Toalhas, assinado Óbidos
Óleo sobre tela.
Josefa de Óbidos (1630-1684), 1640 a 1660 (c.).
Pub. primeira vez in Panorama, n.º 9, 1942, citado in Vítor Serrão (coord.), Josefa de Óbidos e o Tempo Barroco, 1993, p. 203.
Fotografia de 17 de outubro de 2025.
Museu Municipal de Óbidos, Rua Direita, 57, Óbidos, Portugal
Josefa de Ayala Camacho Figueira Cabrera Romero (Fev. 1630-Óbidos, 22 jul. 1684) Josefa d'Óbidos, nasce em Sevilha em fevereiro de 1630 e a sua vida decorre entre a vila de Óbidos, onde os pais se instalam por volta de 1634 e, depois, a cidade de Coimbra, onde ingressa durante dois anos no Convento de Santa Ana. Vive entre localidades próximas, tais como Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Buçaco, sempre num universo regional, tranquilo e recatado, profundamente devoto, com as suas igrejas, confrarias, irmandades e conventos, longe dos grandes centros e movimentos artísticos europeus. É na oficina do pai, o famoso pintor Baltazar Gomes da Figueira (Óbidos, 1604 - Óbidos 1674), formado esteticamente em Sevilha, no contacto com artistas como Francisco Herrera, o Velho (1576-1656), Francisco Zurbarán (1598-1664) ou Juan del Castillo (c. 1590-1658), que Josefa aprende a arte da pintura e com o pai trabalhará durante anos. Apesar deste isolamento, e do facto, por si só excecional de, neste contexto, ser uma mulher pintora, uma das poucas em Portugal na época, o modo como se exprime artisticamente é peculiar. Josefa na sua obra consegue integrar, sentir e interpretar com uma linguagem plástica muito própria, o espírito e a estética barrocos. Como afirma Vítor Serrão, “O estilo Joséfico afirmou-se cedo em termos de absoluta individualização, a ponto de as suas obras, mesmo se não assinadas ou documentadas, serem facilmente reconhecíveis.” Há na pintura de Josefa de Ayala uma dimensão mística, um sentimento inocente e profundamente humano, uma presença sensorial e táctil dos objetos, que se articulam num código iconográfico e estético facilmente identificável, mas plenamente barroco. Josefa forma-se na oficina do pai e, consequentemente, ambos trabalharam um repertório comum para determinados temas, como as naturezas mortas. Os modelos de cestos de cerejas, pratos com queijos e flores, taças com bolos e biscoitos, cestos com pão e folares, eram replicados em diferentes composições, numa produção de carácter oficinal. Josefa consegue criar uma envolvente de afeto e tranquilidade que torna a sua pintura inconfundível.
Foi considerada, logo a partir do século XVII, o protótipo da cultura seiscentista nacional, sendo a sua obra muito valorizada no contexto mecenático da época e disputada pelas coleções aristocráticas. Viveu a maior parte da sua vida em Óbidos, povoação que cumpria os requisitos de corte de aldeia, pela sua nobreza ativa e desafogada, defensora da causa de Bragança contra o domínio espanhol, pelas confrarias laicas e o senado municipal, pelas tertúlias literárias e as residências com obras de arte, para além da importância do seu património histórico.
O Museu Municipal de Óbidos foi inaugurado a 15 de junho de 1970, pelo então presidente da República, almirante Américo Deus Rodrigues Tomás (1894-1987) o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Alves Cerejeira (1888-1977) e diversas autoridades do Governo, ocupando um palacete dos meados do século XVII e XVIII, que chegou a servir também de prisão municipal e, no XX, foi residência do pintor Eduardo Malta (1900-1967), que lhe deu parte do aspeto de palácio que hoje apresenta. Foi seu primeiro diretor o então presidente da Câmara, Albino de Castro e Sousa (1922-1984). A exposição permanente testemunha a ação das colegiadas religiosas, paróquias, da Santa Casa da Misericórdia de Óbidos e outras entidades, destacando-se a coleção de pintura dos séculos XVI e XVII, onde constam obras de Belchior de Matos (1570-1628), André Reinoso (c. 1590-1650), ativo entre entre 1610 e 1641, e Josefa d’Óbidos (1630-1684).