Terrina em forma de cabeça de javali, 1760-1770, China
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Descrição
Terrina em forma de cabeça de javali e travessa com cena europeia.
Porcelana chinesa policromada de exportação, com esmaltes fortes e opacos da “família rosa” sob o vidrado, 27 x 38 cm / 43,5 x 49,5 cm.
Oficina da dinastia Qing (1644-1912), reinado Qianlong (1736-1795), c.1760-1770.
Fornos de Jingdezhen, Província de Jiangxi, China
Fundação Medeiros e Almeida (Inv. ), Lisboa, Portugal.
Este curioso conjunto em porcelana da China de exportação da chamada “família rosa”, formado por terrina em forma de cabeça de javali e travessa com a mesma decoração, faz parte da extensa coleção de cerâmica chinesa do acervo do Museu, que inclui terracotas funerárias da dinastia Han (206 a.C. – 220), os exemplares dos primeiros vidrados da dinastia Tang (618-907), um importante núcleo das “primeiras encomendas” – primeiras peças de porcelana encomendadas aos chineses após a chegada dos portugueses em 1513, como o célebre gomil manuelino desta Fundação -, e porcelanas para o mercado interno e externo das dinastias Ming e Qing, numa ampla perspetiva da produção cerâmica da China Imperial.
As terrinas em porcelana da China em forma de animal derivam das faianças europeias que, por sua vez, remetem para a tradição medieval de adornar as mesas cerimoniais com os restos mortais dos animais caçados durante a época da caça e servir a carne dentro das cabeças. Em Inglaterra, por exemplo, era um hábito de Natal apresentar à mesa uma cabeça de javali que era servida numa travessa de prata ou ouro enquanto se cantava uma música natalícia (“Boar’s Head Carol”). Outra origem possível para este tipo de peças pode ser as figuras de cera ou açúcar (alfenim) que decoravam as mesas renascentistas, ou ainda, as empadas servidas à mesa na forma do animal que continham – nomeadamente aves e peixes – e que posteriormente deram lugar a excêntricas terrinas em prata.
A partir de meados do século XVII surgem as terrinas em faiança europeia modeladas e esmaltadas naturalisticamente, algumas inclusive em tamanho natural, bem como em forma de vegetais e frutas. As primeiras são provavelmente as produzidas na Alsácia, em Estrasburgo, entre 1748 e 1754, pela mão de Paul Hannong (ativo c.1732-c.1760), a que logo se seguiram as manufaturas de Höchst e Meissen na Alemanha, Chelsea, Longton Hall Bow ou Worcester em Inglaterra e, em Portugal, a Real Fábrica de Louça (ao Rato). Este tipo de peças criava uma colorida e atrativa cenografia; as formas representadas nem sempre correspondiam ao conteúdo, o que juntava a surpresa gustativa ao deleite visual, numa celebração dos sentidos muito ao gosto do Rococó (texto Fundação Medeiros e Almeida).