Retábulo-mor da sé de Vila Real, oficina portuguesa de 1620 (c.), remontado em 1938, Vila Real, Portugal.
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Descrição
Retábulo-mor da sé de Vila Real.
Proveniente da igreja do antigo convento de Odivelas, 1620 (c.) e seguintes.
Remontagem em 1938.
Fotografia de 13 de outubro de 2017.
Vila Real, Portugal.
Antiga igreja do convento dominicano de Vila Real, que terá sido iniciado em 1424, no reinado de D. Dinis. Do convento nada mais resta do que a igreja e seu adro. De conceção gótica tardia, é um monumento de 3 naves. Constitui o melhor exemplo transmontano da arquitetura gótica despojada e funcional.
Séc. 15 - os religiosos do convento de São Domingos de Guimarães procuram fundar um convento em Vila Real, obtendo para tal, bula do Papa Martinho V e a licença do arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra; 1421, cerca - D. João I escreva a Martim Afonso, contador régio na província, para ir, com o padre Francisco, prior do Convento de São Domingos de Guimarães, escolher na vila ou seu arrabalde o local mais apropriado à edificação; escolhe-se um local fora das muralhas e no extremo do arrabalde, em parte do rossio da vila, mais tarde designado Campo do Tabulado, cedendo a Câmara, para alinhamentos, uma parte do dito Campo; 1421, 20 nov. - carta de D. João I confirmando a doação do terreno para a edificação, desistindo em simultâneo, dos foros devidos à coroa pela parte concedida (foros esses em razão da doação de D. Dinis, da Redonda, ao concelho de Vila Real), o que ficaria anulado se o convento não fosse construído ou se nele deixassem de realizar os ofícios religiosos; posteriormente, o rei manda Pai Rodrigues, escrivão dos coutos da comarca, fazer a medição dos terrenos demarcados, verificando-se que tinham 50 braças de comprimento e 29 de largura, de dez palmos cada braça; 1422, 9 dez. - D. João I doa um pedaço de campo do Rossio, que está à porta da adega de Diogo Gomes de Azevedo, de oito, ou dez passadas, para fazerem a cerca da igreja, "que se há de fazer onde está a dita adega"; doa ainda um anel de água do cano corria do Seixo até ao local; referência à fonte do Chão no caminho da Barroca junto ao terreno doado para o convento; 1424, 8 maio - celebração de missa na Capela de São Sebastião, existente no local onde se iria construir o convento e pertencente à Câmara, que a doara à Ordem, e lançamento da sua primeira pedra, em dia da aparição de São Miguel; segundo o cronista da Ordem, inicia-se a abertura dos alicerces do convento, o qual teve como padroeiros os marqueses de Vila Real, cujo palácio ficava nas imediações (v. PT011714230186); 1426, 7 jan. - o Convento de São Domingos de Guimarães doa alguns livros e objetos de culto, nomeadamente uma cruz, turíbulo e naveta de cobre; 1434 - ereção da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, posteriormente confirmada por bula de D. Martinho V; 1443 - já existem registos de ordenações relativas a frades do convento de Vila Real; 1450 - D. Afonso V contribui para as obras com 286 reais brancos; 1451, 3 fev. - morte de Catarina Alvarez, mulher de Álvaro Rodrigo, a qual deixa ao convento 4$000 para as obras; 1455, 10 maio - compra da capela de Nossa Senhora da Conceição, da sala do capítulo, por Afonso Anes e sua mulher, Maria Afonso, para seu jazigo; 1492 - obra da capela de Nossa Senhora da Conceição da sala do capítulo, mandada fazer por João Anes Carneiro, conforme inscrição na mesma; séc. 15 - época provável da feitura das esculturas dos nichos da fachada principal; instituição da Irmandade do Santíssimo Sacramento; 1509 - querendo os frades fabricar "certa oficina" dentro da cerca, pretendendo para tal comprar um chão confrontante, o seu dono dificulta a venda, tentando obter mais dinheiro, acabando o Marquês de Vila Real por o comprar e dá-lo aos frades; 1536 - reforma da capela de Nossa Senhora da Conceição, da sala do capítulo, por Gaspar Carneiro; séc. 16 - o Provincial Frei João da Cruz manda fazer a obra nova de dez celas do dormitório, sem custo para o convento, e "hum ornamento de téla de ouro roxa tão perfeito, que pode servir em exéquias de qualquer Principe" (SOUSA, p. 977); D. João III dota o convento com a metade das rendas da igreja de Mancelos, da Província do Minho; 1552, finais - ereção da Irmandade do Coração de Maria; 1571 - data inscrita no portal em arco existente no adro da igreja; 1590 - Jerónimo Lobo Barbosa, fidalgo da Casa Real, compra ao convento um "presbiterio do altar mor, da parte da epistola", para seu jazigo e de seus descendentes; 1594 - construção do cruzeiro no Campo do Tabulado, por iniciativa popular, o qual foi coletado para pagamento das despesas; séc. 16 - construção da fonte do Calvo no muro da antiga cerca, aproveitando as águas sobrantes de uma fonte particular que também pertencia aos frades dominicanos; 1617, 10 abr. - compra do "presbiterio do altar mor da parte do Evangelho", por Gonçalo da Mesquita Pinto; 1634 - reforma da capela de Nossa Senhora da Conceição, da sala do capítulo, pelo seu administrador Domingos Magalhães Carneiro, que fora sargento-mor da ilha de São Tomé; 1664, 18 out. - referência à capela de São João Baptista, edificada pelo prior do convento, frei Manuel de Jesus, no claustro, fronteira à sala do capítulo, o qual também a mandou azulejar, pintar e dourar, fazer retábulo e teto; 1684, 23 nov. - instituição testamentária da capela de São Francisco, pelo Pe. Francisco Matozo Mourão, da vila de Lordelo e vigário da Igreja de São Tiago da Folhadela, tendo o seu sobrinho Francisco Soares de Mendonça, herdeiro e administrador da dita capela, mandado fazer na portaria do convento; 1703 - aprovação dos Estatutos da Irmandade de São Gonçalo pelo arcebispo da diocese; 1706 - construção de tanque em pedra lavrada de cantaria, "muito útil para o povo", na fonte do Chão; 1716, antes - feitura do apainelado da capela de Nossa Senhora do Rosário pelo entalhador Manuel Vieira, de Torrados, Felgueiras; 1716 - os marqueses da vila, principalmente D. Pedro de Meneses, dotam o convento com 612 medidas, por missa quotidiana e mais três cantadas, no Natal, Páscoa e Ascensão; 1718 - confirmação dos Estatutos da Irmandade do Santíssimo Sacramento; 1721 - o convento, entre a rua da Fonte Chã e o Campo do Tabulado, dispunha de boa cerca, com hortas e produção de vinho e azeite; 1724 - contrato de arrematação da obra de carpintaria da Igreja entre o carpinteiro João Pinto de Magalhães e Hiasinto de Mesquita Botelho e o reverendo Domingos Botelho de Mendonça, abade, por 170$000; 1728 - Frei Manuel Leite reforma o dormitório, faz a torre sineira, a tribuna e o retábulo-mor, com verbas doadas pelo religioso do convento Frei Domingos de Castro; 1732 - a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário estava instalada na capela do transepto, do lado da Epístola, e tinha teto de madeira em falsa abóbada, apainelada, com "quadros de mistérios da Senhora, frizos dourados e quadros" pelas paredes, bem como um retábulo de talha dourada; a Irmandade do Santo Nome de Jesus estava instalada em capela, com o mesmo nome, no transepto, do lado do Evangelho, a qual era forrada a apainelados à "maneira de abóbada" e tinha amplo retábulo de talha; junto a esta capela, havia uma outra, dedicada a São Gonçalo; 1745, 04 out. - escritura de obrigação da obra do retábulo-mor, tribuna, trono, degraus e quatro frestas da capela-mor pelo mestre escultor Manuel Pereira da Costa Noronha, segundo os riscos ou plantas apresentadas e apontamentos, por 770$000, pagos em 3 pagamentos; o mestre devia fazer uma planta do trono imitando a talha da tribuna, as quatro frestas deviam ser revestidas a "talha à holandesa" e guarnecidas de caixilhos; toda a madeira utilizada devia ser de castanho; o mestre comprometia-se a dar por concluída e assentada a obra até 4 de agosto de 1746 e a condução da obra até ao convento, por terra e rio, devia ser por conta do convento; 1755 - reforma da capela-mor, que recebe um cadeiral de pau preto; 1758 - segundo o pároco João Baptista Pereira nas Memórias Paroquiais da freguesia de São Pedro, o convento, "cujo templo está ao antigo, porém com grandeza, tem três naves com seu cruzeiro e a capela-mor está feita ao Moderno e se reformou no ano de mil setecentos e cinquenta e cinco"; tem 8 altares, a saber, o altar-mor, em que se conserva o Santíssimo Sacramento, o de Nossa Senhora do Rosário, o do Senhor Jesus, o de São Gonçalo, o de Santo Tomás e São Jacinto, o de São Sebastião, o de Santo António e o de São Vicente Ferrer; tem as irmandades de Nossa Senhora do Rosário, com copioso número de irmãos, que manda celebrar missa cantada todos os sábados pelos irmãos e paga aos padres os sermões dos primeiros domingos de cada mês, nas vésperas, que faz das excelências do rosário, a Irmandade do Senhor Jesus e a de São Gonçalo; referência à fonte do Calvo não ser perene, porque não lançava água sempre; 1834 - após a extinção das Ordens Religiosos, a igreja é cedida ao pároco de São Pedro; 1835, 21 jan. - requisição da igreja para paróquia da freguesia de São Dinis; 11 jun. - entrega da igreja pelo prefeito local ao reitor de São Dinis, para sede da paróquia; 7 set. - a igreja passa para a paróquia da freguesia de São Dinis; 11 set. - requisição do edifício conventual pelo Ministério da Guerra para quartel do Batalhão de Caçadores nº 3; 14 set. - a cerca passa a horta do regimento de Caçadores nº 3; 21 out. - portaria manda pôr à disposição do Governo Civil dois quarteirões do edifício para tribunal e Biblioteca; 1837, 21 nov. - estando o antigo convento ocupado pelo Batalhão de Caçadores nº 3, deflagra um enorme incêndio que consumiu inteiramente o interior do convento e chega à igreja, só poupando a capela-mor; 1842, 30 mar. - venda da cerca; 1843, dez. - transferência do antigo cruzeiro do Campo do Tabulado para o adro da igreja; 1845 - novo incêndio no edifício; 1850 - colocação do segundo sino na torre sineira, de 23 arrobas, e feitura das casas para as sessões e arrecadação das Irmandades do Santíssimo Sacramento e da Senhora do Rosário; 1854, 17 abr. - anúncio para venda do edifício conventual; 1891, out. - uma comissão de cidadãos encomenda um órgão para a igreja; 1905 - a fonte do Chão já não era perene; séc. 20 - entaipamento da fonte do Calvo no muro da cerca, deixando à vista apenas o vão em arco quebrado, e da fonte do Chão, nas imediações, deixando aparente apenas o arco em volta perfeita; 1922, 20 abr. - criação da diocese de Vila Real pelo Papa Pio XI, pela Bula "Apostolicae Praedecessorum Nostrorum", com paróquias provenientes da Arquidiocese de Braga (166) e das Dioceses de Lamego (71) e de Bragança (19), ficando com os limites do distrito do mesmo nome; o primeiro bispo foi D. João Evangelista Vidal (1923-1933); 1924 - sagração da igreja conventual como Catedral; 1930, 28 jan. - na sequência da elevação da igreja a Sé e dado o estado do imóvel, com caiação das paredes e mutilação de colunas e capitéis, o secretário-geral do Governo Civil solicita à DGEMN que interceda junto do Ministro do Comércio a cedência de verba para a limpeza interior e o envio de um arquiteto para orçar as obras necessárias ao seu restauro; 1930, década - adaptação de parte da zona regral a cine-teatro, com capacidade para 789 lugares; 1938 - pedido para que o retábulo-mor do Mosteiro de Odivelas (v. PT031116030003) fosse desmontado e transferido para a Sé de Vila Real, o que foi deferido; 1942 - carta do padre Artur Pinto dos Santos ao Diretor-Geral da DGEMN solicitando um púlpito e a afinação do órgão para o funcionamento do culto, não do órgão antigo, "pois êsse quando da desmontagem ficou quàsi destruído"; mas ao menos, de um outro mais pequeno que entretanto conseguiram (TXT.01917391); o cadeiral da capela-mor ainda não fora colocado, o que causava constrangimento; 1943, 16 abr. - ofício do arquiteto diretor da Regional do Norte ao Diretor-Geral solicitando um retábulo da Igreja de São Domingos, em Guimarães, para o braço N. do transepto da Sé de Vila Real; 1959 - temporais durante o inverno provocam destruição parcial do vitral da rosácea da fachada principal; 1968 ? 1971 - feitura de bancos com genuflexório e altar projetados pelo arquiteto José Marques da Silva (1869-1947); 1990 - existiam materiais do primitivo órgão no coro-alto; 1992, 01 jun. - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2001 - início das obras na zona regral para instalação do Conservatório Regional de Música, com projeto do arquiteto António Belém Lima (Arquitetos Piolelo); 2003 - colocação de vitrais pintados por João Vieira (1934-); 2004 - inauguração do Conservatório Regional de Música; dezembro - vigília da paróquia da Sé como forma de protesto contra os atrasos na conclusão das obras de restauro e a consequente demora na abertura do imóvel ao público; 2005, 26 maio - reabertura da Sé ao público, com a realização de uma missa às 17H00 seguida da procissão do Santíssimo Sacramento, com a participação de todas as paróquias, em direção à Igreja de Nossa Senhora da Conceição; 2009 - o Monsenhor Agostinho da Costa Borges, reitor do Instituto Português de Santo António, em Roma, sugere ao bispo da Diocese a instalação de um órgão sinfónico na Sé de Vila Real; 2010 - constituição de uma comissão para estudar o assunto; 2016, 1º semestre - data prevista para instalação do órgão sinfónico na Catedral de Vila Real, adquirido à empresa italiana "Famiglia Vicenzo Mascioni", com sede em Varese, e orçado em cerca de 582 mil euros, dos quais cerca de 408 mil são comparticipados por fundos comunitários; o grande órgão é de quatro teclados, composto de trinta e três registos para um total de 2180 tubos; 2016, 20 abr. - inauguração do novo órgão de tubos da catedral. (Paula Noé, 2013)